segunda-feira, 1 de abril de 2013

Identidade musical: a Boa Vista tem ou não tem?

O bairro da Boa Vista, um dos mais importantes do Recife, é marcado por uma mistura de estilos musicais. Será possível identificar uma identidade musical na região?

por Kácia Guedes

A música é uma das características do povo, um dos fatores que determinam a sua cultura, uma das formas de arte, como pintura e cinema. Ela é um dos fatores imprescindíveis para uma movimentada vida noturna e não se faz ausente no bairro da Boa Vista, visto que há muitas misturas de ritmos e de gêneros. Mas poderíamos dizer que ele possui uma identidade musical?

Para o vendedor da loja Disco de Ouro - uma das mais tradicionais da região e conhecida por trabalhar com  bandas clássicas do rock -, Alisson Marques,  é impossível identificar uma identidade musical na Boa Vista, porque “tudo é muito misturado”, fazendo menção à diversidade musical do local.


"Tudo é muito misturado", afirmou o vendedor Alisson Marques sobre a identidade musical da Boa Vista /  Foto:  Tato Rocha/Divulgação

Na loja Vinil, também pertencente ao gênero rock, o dono João Miranda reafirma a questão da impossibilidade de visualizar uma identidade. De acordo com ele, uma cultura do bairro só poderá surgir após uma organização do local. João comenta, por exemplo, que deveriam existir outros lugares para as atividades dos diversos ambulantes, que nos dias de hoje, encontram-se espalhados pela avenida.

Miranda ainda ressalta a questão da valorização local, tanto em relação à produção cultural quanto à população que consome esses materiais: “O artista daqui não valoriza a loja da cidade dele. Ele prefere levar o produto para São Paulo. Nós vemos materiais de bandas daqui em outras cidades”, afirmou João.

Alguns dos frequentadores da loja Vinil, Lucas Rodrigues e Victor Silva também expuseram suas opiniões. Em geral, concordaram que não existe uma identidade musical na Boa Vista. Lucas acredita que o local possui potencial para a organização e a realização de shows.


A loja Vinil, também localizada na Boa Vista, contribui para o ambiente musical do bairro / Foto: Kácia Guedes

Na loja CD e Cia, especializada em estilos mais populares, o ambiente musical do bairro da Boa Vista também se mostra bastante heterogêneo. De acordo com a vendedora Iranilde Gomes, o público de hoje está mais interessado em sucessos antigos, como as clássicas composições de Roberto Carlos, The Fevers entre outros artistas. “A turma jovem também está procurando música antiga. Antes só era a pessoa depois de 50, agora com 20 ou 30 anos procuram esse tipo de música”, relatou a vendedora.

Em relação à identidade cultural do bairro, Iranilde afirma que antigamente poderia atribuí-la ao gênero brega, mas hoje, devido à procura por canções de outras décadas, não possui os argumentos necessários para afirmar isso. “Ultimamente estão saindo bregas com duplo sentido e o pessoal não está querendo ouvir isso”, comentou.

O dono do estabelecimento, Edvaldo Wanderley, comentou ainda sobre a  importância histórica da música no bairro. “Essa área já teve até atacado e aqui foi era uma revenda de discos nos anos de 90. Aqui atrás tem loja de rock, aqui tem a minha, lá na frente tem outra. Aqui é um ponto central”, relatou Wanderley.

Ao contrário de todas as opiniões já expostas, o estudante de jornalismo da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Gabriel Shimoda, acredita que o bairro da Boa Vista possui uma identidade musical. Morador do local há mais de dez anos, ele afirma que essa identidade musical seria algo entre a MPB, a Bossa Nova e o Brega. “Acho que por causa dos bares, aqui tem aquela coisa da boemia, da música entre amigos... É algo mais intimista”, comentou o jovem.

O estudante ainda afirma que o bairro da Boa Vista é influenciado pelo Recife Antigo e por isso pode ser considerado boêmio, mas de uma maneira ainda tímida, exceto em ocasiões especiais: “Eu não diria que é completamente efervescente, porque é uma parcela pequena que vive nos bares. Não é como se fosse uma Vila Madalena (SP) da vida”, relatou. Essas ocasiões especiais seriam justamente os festivais da Rua da Aurora que foram destacados pelo estudante: “Existem festivais de hip-hop, frevo e samba aqui pela Aurora. Apesar de eu não acompanhar a maioria, eu acho legal ter esse tipo de coisa por aqui. Mostra que o governo está dando algum incentivo”.

Apesar de demonstrar apreço pelo ambiente cultural da Boa Vista o jovem possui algumas ressalvas. Em relação aos recursos destinados ao bairro, o estudante acredita que se a cidade do Recife se propõe a ser "multicultural", ou ser uma cidade que tem uma história cultural forte, o investimento ainda não está suficiente. “Tenho amigos artistas, entre músicos, dançarinos e atores que são super mal-pagos e reclamam de falta de investimento. A meu ver, a situação até que melhorou nesses últimos tempos, mas Recife deveria dar exemplo no quesito cultura e dar um patrocínio mais generoso [vindo do governo]. Aqui tem potencial para ficar tão financeiramente bem apoiado quanto São Paulo, mas parece que ainda não se ligaram disso”, comentou Gabriel.

6 comentários:

Este comentário foi removido pelo autor.

Essa matéria não possui fotografias porque as que foram tiradas na ocasião não ficaram boas e estão faltando algumas informações provindas da Secretaria de Cultura. Acrescentarei essas outras informações e as novas fotos no decorrer dessa semana.

Kácia Guedes

Relatório de atividades (26/03/13) =>

Durante a semana passada (26/03/13), os membros da editoria de cultura estavam com atividades divididas. Eu, Kácia Guedes, encerrei e publiquei a matéria sobre a identidade musical do bairro da Boa Vista, com a ausência de algumas informações que já foram citadas anteriormente. Houldine Nascimento, Caroline Melo e Mário Augusto pesquisara novas pautas para serem apuradas no decorrer dessa semana. Robson Gomes fotografou o ensaio do Balé Popular e entrevistou uma aluna da mesma instituição (publicará sua matéria em breve).

Boa matéria, seguem algumas observações:

1) Não usar um colega como personagem (Gabriel)
2) No 6o parágrafo: "Morador do local a mais de dez anos, ele afirma que essa identidade musical seria algo entre a MPB, a Bossa Nova e o Brega" (HÁ mais de dez ano, verbo HAVER).

Obrigada pelas observações Adriana. Eu queria tirar mais uma dúvida. A princípio, eu tinha escrito o título da seguinte forma: "Identidade musical: o Boa Vista tem ou não tem?" Queria saber se estaria errado se eu usasse esse "O Boa Vista" ao invés de "A Boa Vista". Escrevi O porque queria sugerir O BAIRRO da Boa Vista como um todo. Estaria errado se eu colocasse o "o" e não o "a"? Kácia Guedes

Mais informações foram acrescentadas ao texto, devido à entrevista que realizamos com a loja CD e Cia, na terça-feira passada. Kácia Guedes

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