Ao longo dos anos e depois da última tomada de fôlego dos movimentos sociais, o bairro da Boa Vista já é reconhecido como passarela de protestos e marchas que, independente da bandeira, encontram no bairro o melhor local para sustentar ideias e apresenta-las para a sociedade civil.
Um dos movimentos que tem levado centenas de homens e mulheres para o bairro da Boa Vista é a Marcha das Vadias. O movimento, chamado internacionalmente de Slutwalk, estourou no início de 2011, no Canadá. O depoimento que deflagrou em uma série de marchas em diversos países surgiu do policial Michael Sanguinetti, que sugeriu que as mulheres “se vestissem menos como vadias” para que evitassem uma série de estupros que aconteceu na Universidade de Toronto. A tentativa de responsabilizar as vítimas e mulheres em geral fez nascer o primeiro protesto, na mesma região, que levou mais de três mil pessoas às ruas. No Brasil, os protestos já aconteceram em mais de vinte cidades.
Na última edição, em maio de 2012, mais de mil pessoas desfilaram pelo centro da cidade. Cartazes de “um não é um não!”, “meu corpo é meu” e “pelo direito de decidir” defendiam a tese de que o culpado é sempre o agressor e que a mulher não pode nunca ser responsabilizada pela violência sofrida. Em sua primeira edição no Recife, a nossa Slutwalk acontecia no mesmo dia da Marcha pela Família, ilustrando a afirmação de Gigi Brander, do grupo de teatro feminista Loucas da Pedra Lilás, que disse que “é o moralismo e o fundamentalismo religioso que impede a construção de uma sociedade menos machista”.
Dia 25 de maio é a próxima data para o que parece que virou uma tradição em cidades do mundo todo. Nesta data, saindo da Praça do Derby, homens e mulheres de Recife se reúnem pra lutar pelo respeito ao direito de ser mulher. Para a próxima edição da Marcha das Vadias, cerca de 300 pessoas já confirmaram presença em um evento do Facebook. No próximo dia 4 de abril, às 19h, interessados se reúnem no SOS Corpo, na Madalena, em uma “Reunião Organizativa”. Além disso, debates preparatórios para discutir, por exemplo, “Feminismo e Juventude” acontecerão até a realização da marcha. O tema será abordado por Carmem Silva e Hulda Stadtler no próximo dia 18, às 15h, na Universidade Rural Federal de Pernambuco. Nos dias 29 e 30 de abril, a SOS Corpo também organiza o curso Feminismo Materialista Francófono, ministrado por Jules Falquet, feminista e docente em Sociologia na Universidade Paris Diderot.
Depois de dois anos do episódio que deflagrou na Marcha das Vadias, o protesto não perdeu relevância. “Acho que esse tipo de evento reforça uma luta que é de extrema importância pra democracia. É um evento muito democrático e libertador, uma vez que direitos não só das mulheres estão sendo defendidos, mas de uma parcela enorme que acaba não tendo voz muitas vezes”, diz a estudante Gabriella Autran, que esteve presente em todas as edições.Por Marcela Lins e Pethrus Tibúrcio
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