Por Marcela Pereira
Onde um dia foi um cemitério, hoje funciona um dos pontos mais movimentados da noite do centro do Recife. O Mercado da Boa Vista, localizado na Rua de Santa Cruz, já passou por muitas transformações desde sua inauguração, em 1946. A última delas foi em 2008, quando o pátio do mercado deixou de ser um estacionamento para dar lugar a mesas, cadeiras e gente. Muita gente.
Edmilson na seu box que funciona como bar, mas vende produtos de mercearia/Foto: Marina Didier |
Com essa mudança, o box da família de Ednilson Paulo de Moura Filho, estudante de 24 anos, mudou seu principal foco. De longe, a loja ainda parece uma pequena mercearia. Vassouras, detergente e quilos de feijão e arroz continuam distribuídos no balcão. Mas a clientela mais forte é a que está procurando um bom petisco regional e algo para beber. “No fim de semana, com as vendas do bar, lucramos mais do que a semana toda com os produtos de mercearia. Aqui está sempre lotado de quinta a domingo”, disse Ednilson.
Seu freguês, o policial militar Marcelo Assis, de 55 anos, não o deixa mentir. Mas, para ele, não há dia certo para ir. Em plena terça-feira, “um dia de ressaca”, como diz, sentou-se à mesa sozinho para tomar um vinho e comer um prato de frios. “Adoro esse lugar. Aqui há uma frequência enorme de artistas. Eu mesmo lancei meu cd aqui”, disse o PM, que costuma participar das rodas de samba do mercado e tocar violão aos domingos. “Vou a outros mercados, mas não há nenhum como este. Tudo que você imaginar, há aqui. Saraus de livros, cordelistas, debates sobre cinema”, completou.
Marcelo e sua garrafa de vinho num dia de ressaca/Foto: Marina Didier |
Apesar da efervescência artística, Lenílson Ferreira, diz que trabalhar no mercado como comerciante é muito estressante. Ele foi o único dos irmãos a continuar o legado do pai. “Vinha aqui ajudá-lo desde meus oito anos. Hoje, com 54, continuo a trabalhar”, disse Lenílson, conhecido por todos como Leleu. Famoso por seus pratos de comida regional, como bode e sarapatel, Leleu já apareceu na televisão, porque sua banca costumava atrair muitos turistas. “A frequência de estrangeiros caiu muito. Talvez volte com a Copa do Mundo”, opinou o comerciante que só tira folga às segundas. “No fundo, no fundo, eu gosto de trabalhar aqui. Acaba valendo a pena”, confessou.
"Leleu", que trabalha no mercado desde os 8 anos/Foto: Marina Didier |
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