terça-feira, 2 de abril de 2013

Praça Maciel Pinheiro é lugar para poucos


Espaço público, que foi centro de intelectuais no início do século XX, está tomado por moradores de rua 

Por Igor Nóbrega e Marina Barbosa 

Moradores de rua ocupam a Praça Maciel Pinheiro / Foto: Marina Barbosa

Antigo ponto de encontro de políticos, judeus e intelectuais, a praça Maciel Pinheiro, no bairro da Boa Vista, hoje é cenário de abandono e marginalidade. Os bancos do espaço público, que deveriam comportar casais e transeuntes, são reduto de vários moradores de rua, que fazem do local sua casa. Colchões, roupas e telas de proteção agora chamam mais atenção que a fonte e a estátua de Clarice Lispector, verdadeiras atrações do local.

Os pertences dos moradores de rua costumavam ficar no gramado da praça e a fonte servia de local para banho. Agora a situação já é um pouco diferente, porque eles passaram a ocupar o centro do espaço. A mudança aconteceu depois que a Empresa de Manutenção e Limpeza Urbana do Recife (Emlurb) deu início à revitalização do local, no início de março. Para realizar serviços como a recuperação dos jardins e da iluminação, os ocupantes da praça foram retirados dali e cercas de proteção foram instaladas para isolar e proteger a vegetação. Mas, sem ter onde morar, esse pessoal retornou à Maciel Pinheiro.

Tapumes protegem gramado da praça / Foto: Igor Nóbrega

“Os moradores de rua são os verdadeiros donos da praça. Eles assustam quem passa por aqui e atrapalham o comércio da região. Além de ficar o dia todo aqui, eles costumam brigar e fazer arruaças. Também há muitos usuários de drogas e prostitutas”, denuncia Antônio de Assis, vigia de uma das lojas ao redor da praça. Apesar de trazer insegurança a quem passa pelo lugar, Antônio diz que eles não costumam praticar assaltos. “Muita gente deixa de fazer compras por aqui com medo de ser roubado, mas esse pessoal só costuma brigar entre si e as confusões acabam logo.” Em volta da Maciel Pinheiro, há vários estabelecimentos comerciais, como padaria, banco e lojas de móveis.

Policiais que trabalham na região confirmam que o local é cenário de briga entre moradores de rua. “A gente já pegou até faca de um querendo matar o outro. As brigas ocorrem geralmente quando eles tomam os pertences dos colegas ou estão bêbados”, diz o cabo da Polícia Militar Glaudstony Galvão, que fica de plantão no posto policial da Rua da Imperatriz, a menos de 50 metros da Maciel Pinheiro. Apesar da proximidade com o posto, a praça não conta com segurança adequada. Trabalhadores da região acreditam que os moradores de rua voltam ao local devido à escassez de guarda municipal no espaço. “Estão sendo feitas melhorias, mas se não colocarem policiamento vai voltar a ser tudo como antes. Os moradores de rua já voltaram e quando tirarem a cerca eles vão reocupar os gramados”, acredita Antônio Assis.

Mesmo sem policiamento e com a presença dos desabrigados, algumas pessoas ainda se arriscam a frequentar a praça, um dos únicos pontos de entretenimento da região. “Não confio nesse pessoal. Sempre tenho receio de ficar aqui, mas mesmo assim continuo vindo. Trabalho por perto e esse é o lugar que temos para descansar o almoço antes de voltar para o serviço”, diz o funcionário do Atacado de Presentes, Jeofrásio Ferreira. Segundo ele, a sensação de insegurança é agravada pela falta de policiamento. “Faz tempo que não vejo guarda municipal aqui. Além disso, são poucos os serviços de manutenção realizados na praça. Essa situação é péssima, pois estraga o espaço e prejudica o turismo”, afirma Jeofrásio. 

HISTÓRIA - Inaugurada no dia 7 de setembro de 1876 em comemoração à vitória das tropas brasileiras na guerra do Paraguai (1864-1870), a praça já teve vários nomes: Moscoso, Largo do Aterro ou da Matriz, Boa Vista e conde d'Eu. Firmou-se como Maciel Pinheiro muitos anos após sua inauguração, em homenagem ao talentoso jornalista e abolicionista que dá nome à praça.
Tornou-se reduto da colônia Judaica em Pernambuco antes da II Guerra Mundial, quando muitos judeus migraram para o Estado em decorrência do anti-semitismo e se instauram, inicialmente, no bairro da Boa Vista. Foi o principal fórum de encontros e debates tanto por parte dos imigrantes, quanto dos pernambucanos residentes em seus arredores. Nos bancos da praça, discutiam-se as últimas novas relativas à política, ao comércio, às artes, à literatura, e outros assuntos. 

1 comentários:

Gente, colocar legenda e autoria das fotos, ok?

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