quinta-feira, 18 de abril de 2013

Degradação no Centro Histórico da Boa Vista


De quem é a responsabilidade pela preservação do Sítio Histórico: da prefeitura ou dos moradores?
Por Marcela de Aquino     Fotografia: Marcela e Stelivam

Sobrados deteriorados na Rua da Matriz
O centro histórico da Boa Vista permanece com a estrutura dos seus antigos casarios abalada devido a falta de ações públicas que retardem a ação do tempo. De acordo com a prefeitura, o morador é quem deve fazer a restauração dos sobrados, mas grande parte das pessoas que vivem na localidade não tem condições financeiras para custear uma obra. Antigo reduto de uma classe média formada por judeus e italianos e considerada Zona Especial de Preservação do Patrimônio Histórico e Cultural desde 1981,  o velho bairro também sofre com a deterioração de seus logradouros.
Na rua da Matriz, encontra-se lixo acumulado nas calçadas, esgoto a céu aberto, fachadas deterioradas e um sobrado que fora incendiado e corre risco de desmoronar. Segundo Genival Correia da Silva, que trabalha em um imóvel vendendo materiais usados, faz 3 meses que incendiaram o sobrado e até agora a prefeitura não tomou nenhuma providência para solucionar o caso.
"Não se sabe se vão demolir ou tentar restaurar porque é um patrimônio, mas não se resolve nada. E o comércio é prejudicado, já que os carros não passam" comenta, referindo-se a interdição de um trecho da rua por causa do perigo de desabamento. Os comerciantes da área continuam com a retirada dos materiais nos imóveis e mantém as lojas fechadas. Seguindo em frente, se encontra outro imóvel interditado há três anos na Rua da Glória,prestes a ruir, no qual a prefeitura visitou semana passada para fazer um levantamento, mas a lentidão nesses casos predomina. 

Demax, em seu salão de beleza cuidando da clientela
Na rua Velha, além de lojas comerciais, há bastante depósitos de móveis, de carrocinhas, pensões e casas de moradia. No sobrado de número 385, reside o cabeleireiro Adelmar José da Cunha, de 56 anos, conhecido por Demax, que transformou sua moradia em um salão de beleza. Faz cinco anos que mora como inquilino na Rua Velha, e trinta, na Boa Vista. Ele mesmo é quem fica responsável pelas reparações necessárias na casa, como uma pintura ou concerto no telhado. " O único problema é com as telhas canal que, às vezes, abrem quando passa um transporte pesado como caminhão e ônibus". Mas, afirma sentir-se seguro com a estrutura da casa, " Não tenho medo nenhum de morar aqui. Se houvesse perigo, já tinha ido embora". 

Fachada de um sobrado 
Grande parte das casas pertencentes ao Sítio Histórico foram sendo ocupadas pela população mais pobre, que muitas vezes, alugam os imóveis e delegam aos inquilinos a responsabilidade de fazer pequenas reformas na casa. Algumas, abandonadas, e pela omissão do Estado na localidade, acabam sendo lugares propícios ao tráfico de drogas e a prostituição, segundo relatos de moradores. 

Pátio de Santa Cruz
A intervenção da prefeitura é sentida quando da punição sobre uma mudança no imóvel como conta Maria de Lurdes da Silva, dona de um pensionato na Rua da Santa Cruz e de uma loja no Mercado da Boa Vista. Através de uma denúncia, os agentes públicos fiscalizaram o local onde estava sendo colocado um ar condicionado, que não prejudicou a estrutura e por isso, o imóvel não foi multado. Ainda segundo ela, as fachadas de casas permanecem com azulejos danificados porque não se pode alterar nada, conforme a legislação. "Ninguém pode mudar os azulejos antigos ou, se mudar, tem que ser do mesmo modelo. Mas é difícil encontrar hoje, só se faz por encomenda".

Gilson Gonçalves, professor de arquitetura da UFPE, diz que de acordo com a legislação, mesmo o casario sendo tombado, o responsável pela revitalização do imóvel é o proprietário. "A prefeitura não pode investir dinheiro público em bens privados" complementa.   Segundo ele, a legislação é importante para a preservação de um bem cultural, apesar da necessidade de haver alguns ajustes. "O Sítio Histórico tem uma legislação específica e rigorosa pela prefeitura, no qual você não pode alterar as formas, as cores, os revestimentos, os telhados, para não descaracterizar, ou seja, o aspecto formal é muito importante para a preservação histórica." Ele reconhece a condição financeira dos moradores e cita como uma possível alternativa um programa de financiamento pela Caixa já concedida aos moradores da parte histórica de Olinda, e relembra a importância da iniciativa do governo do Rio de Janeiro no projeto Corredor Cultural, em que a prefeitura financiou a revitalização de uma zona especial.


Jacques Ribemboim, presidente da ONG Civitate
foto retirada do blog de Jamildo
Uma organização não governamental  localizada na Rua Velha tem como objetivo recuperar os espaços urbanos. O presidente da ONG Civitate, Jacques Ribemboim, afirma que para o melhoramento do entorno se faz necessário uma ação conjunta entre os moradores e o poder público. "A prefeitura precisa cuidar do local e sinalizar que vai investir em serviços e equipamentos públicos. A partir daí, os moradores e proprietários respondem investindo em seus imóveis". Para ele, a iniciativa tem que partir da prefeitura através de um programa para a recuperação territorial. "Quando prevalecer o descaso das autoridades, os donos dos imóveis relaxam em seus cuidados, pois não valerá a pena. O abandono torna-se então tanto público quanto privado e a desordem passa a tomar conta das ruas e edificações, com invasões e mau uso dos espaços", assegura. Defende também a qualidade ambiental que só vinha sendo planejada nos últimos governos para valorizar os imóveis e, com isso, afastar os mais pobres da região, e cita a complementaridade de uma política habitacional para atender as pessoas mais carentes da área.


1 comentários:

Marcela, optamos por só usar fotos próprias, então retirar por favor a que está creditada ao blog de Jamildo, ok?

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