terça-feira, 23 de abril de 2013

Ziguezagueando pelas calçadas da Boa Vista: ambulantes no caminho

por Patrícia Bonfim


Ultrapassar buracos aqui, driblar veículos estacionados acolá, ziguezaguear por entre ambulantes e raízes de árvores em busca de uma área plana para percorrer distâncias a pé. Essa é a realidade de quem vai até o bairro da Boa Vista, no Centro da cidade. Quem quer comprar mercadorias no Recife e encontrar variedades e preços diversos, sabe que o bairro é o mais indicado. Conhecido historicamente pelo seu centro de compras, a Boa Vista é repleta de lojas e barracas de comércio informal. Mas quem passa por lá também sabe da dificuldade de transitar pelas ruas e calçadas do bairro. Ocupadas principalmente por ambulantes, o local dos pedestres é tomado por tabuleiros, bancas e carroças que demarcam os espaços dos comerciantes, vendendo desde cadarços de tênis, passando por roupas, sapatos e óculos, até chegar a artigos tecnológicos.


Ambulantes pelos dois lados e muita sujeira nas calçadas da Boa Vista. (Fotos: Moema França)

Desde a sua modernização com a instalação do novo corredor exclusivo para ônibus, em 2008, a Avenida Conde da Boa Vista sofre com a falta de manutenção. A principal via do bairro está degradada e, as calçadas, em péssimas condições. Pedras do pisos soltas, buracos abertos no meio do passeio público e pouco espaço para o pedestre passar são alguns dos exemplos dos transtornos provocados pelo comércio informal do bairro. "As calçadas estão entregues para a população e a prefeitura não fiscaliza. A situação só vai mudar quando mexer no bolso e colocar uma multa alta. Enquanto ficar só na palavra de que vai multar, não vai mudar", afirmou a artesã Zeneide de Melo, que passa pela Boa Vista quase todos os dias.

Os comerciantes que ocupam o passeio público afirmam que tentam deixar espaço para o pedestre passar, mas que nem sempre a ‘boa prática’ é respeitada pelo vizinho do lado. “Tem uns que chegam aqui depois e montam a barraca de qualquer jeito e em qualquer lugar”, contou José Roberto, comerciante da região há 9 anos. Sobre a fiscalização que a Prefeitura do Recife realiza através da Diretoria de Controle Urbano da Prefeitura do Recife (Dircon), os comerciantes não se mostram temerosos. “Todo dia os fiscais passam, a gente sai e depois volta”  diz o ambulante Wellington Nascimento, que vende capinhas para o VEM há menos de um ano na Rua da Soledade. “O jeito é ficar correndo e voltando, nunca tive mercadoria apreendida.”


Fiscais da Dircon apreendem mercadorias dos ambulantes que não conseguiram fugir a tempo; a situação se repete todos os dias

De maneira volumosa e nada silenciosa, o comércio informal vai se instalando em vias onde não existia a prática. É o que ocorre na Rua da Soledade, onde foi inaugurado o novo posto de carregamento do cartão VEM há cerca de 9 meses. Os ambulantes chegaram de maneira rápida e tomaram quase todo o espaço do passeio público.  “No antigo posto, na Praça Maciel Pinheiro, a gente ficava nas ruas porque as calçadas eram estreitas. Aqui o espaço é maior e dá pra vender bem mais que só acessórios para o cartão”, afirmou José Abraão, há 15 anos trabalhando como ambulante.

Os transeuntes têm que driblar as bancas e os buracos para conseguir passar pelo local. Alguns desistem até de esperar pelo montante de pessoas que se formam para atravessar em fila indiana e resolvem andar pela rua mesmo, se arriscando por entre os carros. “Eu fico de mãos atadas, tenho pena dos comerciantes que tiram a renda apenas através desse serviço, mas também não acho justo esse estrangulamento que fazem nas calçadas”, contou Mariana Araújo, estudante de Pedagogia.



Numa tentativa de aliviar a situação, a Prefeitura do Recife deu início ao Plano de Arruamento através da Secretaria de Mobilidade e Controle Urbano (Semoc) no começo deste ano. A medida prevê demarcar o limite entre a calçada e o comércio com uma linha branca. A expectativa da Prefeitura, embora sem data definida, é abranger toda a cidade e estabelecer uma fiscalização. "Estamos dando prioridade às pessoas na questão da mobilidade", afirmou o secretário João Braga.

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