segunda-feira, 8 de abril de 2013

Muito além de uma escola de idiomas

Instituto de Cultura Brasil-Itália busca promover a integração entre os dois países

por Houldine Nascimento
 
Eles chegaram aos montes. Entre 1870 e 1930, um número considerável de italianos desembarcou no Brasil, trazendo uma grande diversidade de costumes, além de ajudar a desenvolver a economia de nosso país. Como herança, deixaram a culinária, com as massas; a influência no cinema (a inspiração que o neo-realismo proporcionou ao Cinema Novo), na música e no sotaque do brasileiro, entre outros.

Sabendo disso, a economista e cientista social Cristina Presbitero decidiu, em 1988, criar o Instituto de Cultura Brasil-Itália (ICBI). Localizado na Rua Marquês de Amorim, Boa Vista, o espaço procura preservar, através do conhecimento, a ligação existente entre as duas nações. “A iniciativa nasceu porque eu venho de uma família de italianos. Estudei por dez anos lá, toda a minha formação acadêmica foi feita na Itália. Quando voltei, me senti motivada em colocar aqui uma instituição que falasse sobre o país. Não só da Itália, mas também do Brasil porque sou brasileira, me sinto brasileira”, revela.

Cristina é responsável pela direção do ICBI. Seu avô, que era comerciante, veio da Calábria, região do sul da Itália, junto com os vários conterrâneos que chegaram ao território brasileiro, em busca de melhores oportunidades. Naquele momento, a Europa atravessava uma crise na economia. Ela aproveitou para falar sobre a grande quantidade de oriundis (descendentes de italianos) que vivem no Brasil. “O Brasil tem 191 milhões de habitantes e, destes, aproximadamente 40 milhões são compostos por italianos e descendentes.” Segundo a Embaixada Italiana, cerca de 25 milhões de descendentes italianos vivem no Brasil.

Entre as atividades oferecidas pelo Instituto, estão exposições sobre grandes pintores da Itália, acesso à biblioteca, hemeroteca (revistas e jornais) com publicações italianas, uma revista eletrônica chamada “Ciao” e um cineclube com sessões todas as sextas-feiras, às 9h, 15h, 17h e 19h. Tudo isso aberto ao público. O ICBI também possui atividades pagas, como curso de idioma italiano, em vários horários e modalidades; aulas externas e jantares mensais.

Cristina Presbitero esclarece que a biblioteca está passando por reformas. Ainda de acordo com ela, pesquisadores procuram o acervo do ICBI para colher informações sobre o país europeu. Engana-se quem pensa que o legado da Itália se limita ao que foi citado. “O que nos une à Itália? Três acordos bilaterais de imigração com o Brasil. Os 25.443 soldados brasileiros que foram à Segunda Guerra e os 700 que estão mortos no cemitério militar de Pistóia. Você imagina que nossa previdência social se inspira na italiana? E o nosso SUS [Sistema Único de Saúde] tem influência da Unità Sanitaria Locale [hoje Azienda sanitaria locale]”, pontua.

Doutorando em Imunogenética pela USP, Rafael Albuquerque está há quatro meses fazendo curso intensivo no Instituto, estudando 3h por dia. Em maio, ele vai a Milão, onde passará um ano e meio para concluir o doutorado. “Sempre busquei línguas. Falo inglês e francês com relativa fluência, mas sempre tive curiosidade pelo italiano, seja por música ou por filme (gosto muito do cinema francês e italiano). Contudo, o fator determinante para eu estudar o idioma foi o doutorado, a oportunidade de ir para Milão.”

A analista judiciária do Tribunal Regional Federal (TRF) da 5ª Região, Claudia Pessoa, iniciou o curso de italiano na sexta-feira (5). “Sempre achei interessante a língua. Há dois anos, tive a oportunidade de ir à Itália. Fui a outros países, mas me encantei com o lugar e o modo de vida do italiano, com o seu jeito de falar. Em alguma fase da minha vida, pretendo morar lá. Já fiz inglês, mas não concluí. Um amigo me indicou o ICBI, que tem um método mais dinâmico. Tentarei aprender”, comenta.

A sede em que o Instituto de Cultura Brasil-Itália funciona é provisória. Presbitero revela que pretende transferir o cineclube para um auditório. “As pessoas que frequentam as sessões têm bom gosto, uma cultura própria, sabem que o cinema italiano não é de um perfil violento ou discriminador. Os cineastas italianos trabalham muito a questão humana, a cultura local, os costumes de seu povo. É um cinema de alto nível”. A programação do cineclube é divulgada na internet, na agenda cultural do Recife e em folders.

O crescimento econômico vivenciado por Pernambuco tem proporcionado a chegada de multinacionais, como a montadora de automóveis italiana Fiat, em Goiana, e a fábrica de alimentos japonesa Nissin-Ajinomoto, em Glória do Goitá. Graças ao avanço da indústria local, Cristina Presbitero, que também leciona português para italianos, acredita no aumento da demanda por cursos desse tipo. “Observamos a vinda de empresas importantes. Em Goiana, a Fiat produzirá 200 mil carros por ano. O nosso governador foi à Itália e conseguiu convencer mais empresas a se instalarem em nosso estado”, destaca.

A instituição mantém parceria com duas escolas italianas que proporcionam a ida de alunos ao país europeu, concedendo bolsas de até 50%. Cristina também diz que o ICBI não recebe dinheiro público por opção. “É algo de que não se pode depender. É preciso ‘caminhar com as próprias pernas’”, encerra.

Serviço
Instituto de Cultura Brasil-Itália
Funcionamento: terça a sexta, das 9h às 21h;
sábado, das 9h às 13h.
Endereço: Rua Marquês de Amorim, 46, Boa Vista
Telefone: (81) 3221-4112
Site: http://icbi.wordpress.com
E-mail: institutodecultura.brasil.italia@gmail.com

Confira fotos do ICBI. Algumas foram cedidas pelo Instituto e outras de autoria própria:


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