por Robson Gomes
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Raul Kawamura: filho de japonês, nascido em João Pessoa, morador da Boa Vista / Foto: Raul Kawamura/Facebook |
Se
tem uma coisa que temos aprendido bastante no nosso processo de formação
jornalística é como ter feeling para encontrar uma boa história pra
contar, com um personagem representativo. E para isso é preciso correr atrás,
pesquisar, sondar, apurar... Uma tarefa árdua, difícil e, porque não,
desgastante. Principalmente quando o famoso deadline ameaça vorazmente a
sua produção. Na correria do dia, e na dificuldade de estabelecer um contato,
apelamos para as redes sociais, que têm se mostrado um grande aliado na busca
dessas pessoas que podem nos auxiliar na redação de uma boa pauta.
Para
chegar ao meu entrevistado, um site de busca foi o meu primeiro aliado.
Procurando com expressões chave como
“curiosidades boa vista recife”, “curiosidades culturais boa vista recife” e
variantes, encontrei uma notinha de uma exposição fotográfica sobre os
principais pontos do centro do Recife já encerrada há quatro meses, mas um
elemento em especial chamou a minha atenção: “Morador da Boa Vista...” Bingo!
Encontrei um cara que fez uma exposição de fotos com o bairro da Boa Vista e
ele ainda mora por lá? Eis a minha eureka! Mas ao ficar feliz em encontrar o
elemento interessante para ser minha pauta, na hora a preocupação surgiu: como
encontrá-lo?
O
problema teria solução cerca de um minuto depois quando, ao digitar o nome dele
no Facebook, o encontrei sem nenhuma grande dificuldade. Na hora, mandei uma
mensagem inbox, na qual só tive respostas mais de 24 horas depois, mas
positiva. Estava definido: iria entrevistar o designer gráfico, fotógrafo,
produtor cultural e professor de karatê, Raul Kawamura.
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O "escritório" de Raul / Foto: Raul Kawamura/Facebook |
O
lugar marcado para a sua entrevista foi o seu escritório. E daí a primeira
surpresa. É impressionante como certas palavras nos passam certas impressões.
Quando se fala em escritório, imagina-se um lugar morto, com bancadas e
cadeiras, cercado de papeis e gente estressada. Definitivamente, não foi esse
cenário que eu encontrei no escritório de Raul. Localizado na agitada Rua Dantas Barreto, mergulhei na tranquilidade de um enorme ateliê localizado no nono
andar do Edifício Pernambuco. Em vez de birôs velhos, encontro mesas modernas. Em vez de cadeiras, encontro redes. Em vez de muitos papeis, me
deparo com telas de pintura. Além disso, o lugar era arborizado pelas janelas
que quase circundam todo o espaço. E em vez de gente estressada encontro os
amigos de Raul (desde a faculdade de Design) que dividem o “escritório” com
ele.
Comecei
a entrevista fazendo uma pergunta óbvia, mas necessária já que estava o
conhecendo naquele momento. Perguntei sobre seus traços orientais e se ele
havia nascido no Recife, a resposta não podia ser mais surpreendente: “Não. Eu
nasci em João Pessoa e meu pai é japonês. Ele tem uma escola de artes marciais
na Rua do Sossego há quase 30 anos. O sobrenome Kawamura vem por parte de pai”,
justificou.
Formado
em Design Gráfico pela UFPE no ano de 93, perguntei como ele conciliava os
ofícios de designer, fotógrafo, produtor cultural e professor de karatê: “São
profissões bem diferentes. O karatê é para aliviar o estresse do trabalho, e é
uma forma de voltar para mim mesmo. Gosto muito de praticar e ensinar, porque é
ensinando que a gente aprende. Fazer atividades diferentes é muito saudável, até
para gente se desprender um pouco dos outros trabalhos, além de aumentar o
ciclo de amizades. Tenho tempo pra tudo”, garantiu ele, que fica boa parte do
dia no ateliê e duas vezes por semana leciona karatê na academia do pai.
Sobre
a exposição “Recife em Retratos” – a razão que me levou a conhecê-lo – ele
contou que sempre quis executar esse projeto: “mas eu morava muito longe, em
Jardim Atlântico”, comentou. Mas mesmo assim, Raul mantinha contato com o bairro
da Boa Vista comprando livros sobre este bairro e sobre fotografia nos sebos
(lojas informais de livros usados). No ano de 2004, quando chegou para morar no
bairro da Boa Vista, o projeto foi finalmente posto em prática: “Sempre tive
interesse no bairro da Boa Vista porque é um bairro antigo, onde Recife
cresceu. No caminho da academia do meu pai, na infância e adolescência,
circulei por boa parte deste bairro. Desde então, eu sempre quis rever esses
caminhos e explorar os desconhecidos”, colocou.
Durante três
anos, com apenas uma câmera digital, Raul ficava atento às construções antigas,
aos casarões, galpões abandonados, construções de luxo que hoje se tornaram
cortiços, sempre em busca desses resquícios de antigamente na Boa Vista e nos
bairros vizinhos. Além desses elementos concretos, uma textura, uma forma
geométrica, uma combinação também o inspirava a fazer uma foto.
Como as redes
sociais ainda não eram a febre de hoje em dia, ele postava as suas fotos num blog, sempre bem frequentado e
comentado. “Foi quando um amigo meu que trabalha no CCBA [Centro Cultural
Brasil-Alemanha] sugeriu que eu expusesse as fotos”, completou. A iniciativa do
amigo originou a exposição que ficou em cartaz entre os meses de outubro e
dezembro de 2012 neste mesmo Centro Cultural: “Deu muito trabalho, mas o pessoal
do CCBA deu todo o suporte”, garantiu Raul. Indagado se a exposição foi um
sucesso, ele comemorou: “Eu fiz toda a divulgação pelo Facebook e fiquei
impressionado porque veio muita gente. Foi um saldo muito positivo. Uma pessoa
de assessoria divulgou a exposição na imprensa. Mas o ‘Face’ foi fundamental
nessa divulgação”.
E se ele
pudesse resumir toda a exposição “Retratos do Recife” em apenas uma foto? A
resposta de Raul foi categórica: “Tem uma foto da Guararapes que tem um cartaz
azul grudado na parede de um fiteiro. Nesse cartaz tem escrito: ‘Vá em Frente, apaixone-se’. Gosto da imagem por causa das cores, da mensagem e do local”,
concluiu.
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A foto escolhida por Kawamura para resumir a exposição "Retratos do Recife" / Foto: Raul Kawamura/Diario de Pernambuco |
Atualmente,
Kawamura já está envolvido num novo projeto de fotografia, chamado “Recife
Noturno”. Todas as noites, ele sai de bicicleta tirando fotos de ruas estranhas nos arredores da Boa Vista,
em lugares que não tem gente. Neste início de trabalho, as fotos estão sendo
tiradas com o celular, mas posteriormente pretende-se fazer com câmeras grandes,
tripés, de forma mais profissional. Quem quiser conferir este trabalho, basta
acompanhar o seu Facebook pessoal – sua principal vitrine atualmente – ou
seguir @raulkw no Instagram, pois já tem fotos no ar.
A tarde
começava a se despedir no Recife quando perguntei a Raul o que a Boa Vista
representa para a sua vida cultural: “Primeiro porque é o lugar onde o meu pai
possui a academia há quase 30 anos atrás. E depois, a Boa Vista é um dos
bairros onde o Recife começou, junto com Santo Antônio, São José, Recife
Antigo... Aqui tem elementos arquitetônicos e urbanísticos originais da cidade de antigamente. Além de ter essa memória afetiva
de andar muito por aqui quando era criança”, enfatizou.
O espírito jovial e tranquilo que move esse
designer de 48 anos, morador da Rua do Progresso, é admirável, mas não é
surpresa para o próprio Raul: “No Japão é muito comum os guerreiros que
praticam artes marciais desenvolver um tipo de arte para equilibrar as energias”,
declarou. E foi na loucura do centro da cidade que o meu lado guerreiro de ir em
busca de uma matéria se harmonizou ao me deparar com a simplicidade da arte,
através desse olhar apurado e sensível sobre a Boa Vista de Raul Kawamura.
LINKS:
Veja algumas fotos da exposição "Recife em Retratos" publicado no Diario de Pernambuco: http://bit.ly/154caMC
Facebook Oficial Raul Kawamura: https://www.facebook.com/raulkw
Instagram: @raulkw
Vídeo com todas as fotos da exposição "Recife em Retratos": http://bit.ly/12J1F0D
1 comentários:
Gente, foto só se for produção própria!
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