Há 16 anos, o China Brasil virou o 100% Brasil. Mas muita coisa mudou além do nome.
Vera Cavalcanti, 60 anos, sócia do restaurante-casa-de-festa-danceteria
localizado na Rua 7 de Setembro conta que, quando comprou o
estabelecimento, o lugar era tomado pelo “caos chinês”. “Era um mix de
abandono”, definiu. Vera e seu marido, Seu Carlos Antônio, resolveram
arriscar: reformaram o lugar e organizaram tudo. Empreendedores natos,
logo fizeram planos de transformar o self-service em algo mais. Comida e Música, Dia e Noite
Inicialmente, contratavam alguém para cantar e tocar violão durante o
horário do almoço. Com o passar dos anos, o violão foi embora e o
tecnobrega assumiu o posto do entretenimento. Foi então que, em vez de
ter seu nome dividido com outro país, o antigo ‘China Brasil’ finalmente
virou 100% brasileiro. Criaram toda uma estrutura para os shows, com
isolamento acústico, ventiladores potentes e capacitação do pessoal.
Também preocupados com a acessibilidade, salientam que rampas serão
colocadas em breve. De dia, a preocupação com a qualidade dos
alimentos fica por conta da própria dona. Ela é auxiliada por duas
equipes capacitadas: uma para a noite, outra para o dia, contando
inclusive com uma vigilante sanitária.
Assim, a empresa
camaleão vem tomando espaço no bairro da Boa Vista aos contrastes. De
dia, evangélicos, trabalhadores famintos, crianças e idosos. À noite,
bregueiros, trabalhadores dançantes, jovens e idosos.
Vera explica
que o brega não é seu tipo de música. A escolha foi feita porque é um gênero que tem espaço do cenário musical, pouco se investe nos novos músicos. Apesar disso, ela o
considera um ritmo respeitável. “É a música daqueles que trabalham
muito”, disse. Para ela, a valorização do seu esforço se dá no sentido
de promover entretenimento aos seus clientes. “É uma alegria ímpar. Vejo
senhoras arrumadas para a noite, muito felizes”, contou. O cheiro da
maquiagem dá um ar especial ao lugar. “Uma vez, veio um senhor de uns 80
anos pra cá. Ele estava impecável. Era muito gentil na hora de chamar
uma moça pra dançar”, relembrou. “Mas, ao mesmo tempo, chegam os jovens,
que entram e animam a todos”, concluiu. O local funciona de segunda a
domiingo, mas é na quinta-feira que a noite ‘pega fogo’. ‘É o dia que
mais tem gente aqui à noite. A casa lota’.
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Mas nem tudo é festa.
O 100% Brasil de Seu Carlos, Dona Vera e dos trabalhadores famintos e
dançantes já passou por maus bocados. No início de 2010, o local sofreu um
incêndio durante um show à noite. As suspeitas de que o incidente foi
um ato criminoso não foram descartadas na época, contudo não houve
conclusões decisivas na investigação. A tragédia não foi da proporção da
ocorrida na boate Kiss, em Santa Maria (RS), onde mais de 230 pessoas
morreram devido a inalação de um material similar ao que a casa 100%
Brasil utilizava na época do acidente. A espuma da casa de brega pegou
fogo, produzindo uma fumaça preta, assim como na boate gaúcha. Havia cerca de 100 pessoas no estabelecimento, sendo que pelo menos 15 foram hospitalizadas na época. Após
o desastre de Santa Maria, o país iniciou uma onda de fiscalização para
evitar que casos semelhantes acontecessem em outras cidades do Brasil.
Dessa vez, a casa 100% Brasil foi notificada pelos bombeiros e deverão
apresentar as mudanças requeridas dentro do prazo para evitar a
interdição.
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