segunda-feira, 8 de abril de 2013

Grandes colégios, poucos alunos


 Tradicionais escolas da Boa Vista perderam parte de seus estudantes nos últimos anos 

Colégio municipal Pedro Augusto já contou com três mil alunos, mas hoje só tem 243 / Foto: Marina Barbosa
Por Marina Barbosa
Durante muito tempo as ruas do centro do Recife estiveram repletas de estudantes secundaristas. Hoje o bairro da Boa Vista continua abrigando alguns dos mais tradicionais colégios da cidade. Contudo, o número de alunos dessas instituições tem apresentado uma queda significante nos últimos anos.
O colégio municipal Pedro Augusto, na Rua Barão de São Borja, é um dos melhores exemplos dessa situação. A escola chegou a abrigar cerca de três mil alunos no início dos anos 2000, mas hoje conta com apenas 243. Naquela época o colégio contava com 56 turmas, distribuídas entre os ensinos fundamental, médio e técnico nos três turnos. Atualmente são só oito classes secundaristas, que funcionam em tempo integral. A secretária da instituição, Adjane Cavalcanti, de 54 anos, explica que a queda na quantidade de alunos foi acentuada na última década porque a instituição deixou de oferecer o ensino técnico em contabilidade em 2002 e o Médio em 2010.
“É muito triste ver a diferença entre esses números. Esse colégio vivia movimentado o dia todo. Tínhamos alunos de toda a Região Metropolitana e a procura por nossas vagas era muito grande. Estamos tentando melhorar, mas não podemos mudar essa situação sozinhos”, lamenta Adjane, que trabalha há 30 no colégio. Com somente turmas secundaristas, a procura pelas vagas foi reduzida e hoje a maior parte dos estudantes do Pedro Augusto moram no centro da cidade. Além de jovens da Boa Vista, frequentam a instituição adolescentes das comunidades do Coque e dos Coelhos, e dos bairros de Santo Amaro e Recife.
Na mesma rua do Pedro Augusto, o colégio estadual Oliveira Lima é outra unidade de ensino que sofreu com o passar do tempo. Depois de perder boa parte dos alunos, a escola vem trabalhando para melhorar seu ensino e sua estrutura. Alunos contam que os laboratórios de informática e robótica estão sendo construídos, e elogiam a direção e a merenda da escola. “Gosto de estudar aqui. É tranquilo e organizado, não tem briga e os professores são bons e atenciosos. Ainda contamos com um almoço bom e atividades extra no período da tarde, como aulas de música e educação física. Para um colégio público a estrutura é boa, mas o calor nas salas de aula incomoda bastante”, revela o estudante do 2º ano do Ensino Médio Miguel Lobo, de 15 anos.
A assistente administrativa do Oliveira Lima, Cássia Pereira, de 60 anos, concorda com Miguel, mas lembra que ainda é preciso melhorar muito para chegar às mesmas condições de antigamente. “Estou aqui há 39 anos. Entrei como aluna e assim que me formei comecei a trabalhar na secretaria do colégio. Estamos tentando melhorar, mas ainda não é como antigamente. Tivemos uma queda relevante nos últimos anos”. Ela explica que a instituição tinha mais turmas e chegou até a oferecer o curso técnico em magistério no período da noite durante alguns anos. Hoje, são ofertadas apenas dez classes do Ensino Médio, que atendem 396 alunos em regime semi-integral.
Colégio Nossa Senhora do Carmo fechou em 2011, depois de 92 anos de atividades
Foto: Marina Barbosa
As dificuldades não são exclusividade das instituições públicas. O colégio particular São José, na Avenida Conde da Boa Vista, também teve seu número de estudantes reduzido nos últimos anos. O imponente casarão, que foi casa do Barão do Livramento, hoje se destaca pela cor verde, símbolo da Faculdade Frassineti do Recife (Fafire). A escola tem uma parceria com a faculdade, vizinha que ocupa cada vez mais espaço no terreno da instituição. O mesmo acontece com os tradicionais colégios Americano Batista e Salesiano. Seus prédios continuam chamando a atenção de quem passa pelo bairro da Boa Vista, mas encontrar estudantes com a farda dessas instituições por ali já não é tão fácil assim.
A situação tornou-se tão difícil em certos casos que algumas escolas chegaram até a fechar suas portas. O caso mais emblemático é o do colégio Nossa Senhora do Carmo, que funcionou durante 92 anos na Rua Barão de São Borja e encerrou suas atividades no fim de 2011. Na época, a direção da instituição alegou que a medida foi necessária devido à redução no número de alunos. Em nota divulgada à imprensa, informou-se que muitos pais estavam pedindo a transferência de seus filhos para outras unidades de ensino. A desculpa era que o bairro deixou de ser uma região residencial, por isso o tráfego intenso e a violência dificultavam o acesso ao colégio. Depois de mais de um ano sem funcionar, o prédio da escola continua desocupado.

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