Tradicionais escolas da Boa Vista perderam parte de seus estudantes nos últimos anos
Colégio municipal Pedro Augusto já contou com três mil alunos, mas hoje só tem 243 / Foto: Marina Barbosa |
Por Marina Barbosa
Durante muito tempo as ruas do centro do Recife estiveram
repletas de estudantes secundaristas. Hoje o bairro da Boa Vista continua
abrigando alguns dos mais tradicionais colégios da cidade. Contudo, o número de
alunos dessas instituições tem apresentado uma queda significante nos últimos
anos.
O colégio municipal Pedro Augusto, na Rua Barão de São
Borja, é um dos melhores exemplos dessa situação. A escola chegou a abrigar
cerca de três mil alunos no início dos anos 2000, mas hoje conta com apenas
243. Naquela época o colégio contava com 56 turmas, distribuídas entre os
ensinos fundamental, médio e técnico nos três turnos. Atualmente são só oito
classes secundaristas, que funcionam em tempo integral. A secretária da
instituição, Adjane Cavalcanti, de 54 anos, explica que a queda na quantidade
de alunos foi acentuada na última década porque a instituição deixou de
oferecer o ensino técnico em contabilidade em 2002 e o Médio em 2010.
“É muito triste ver a diferença entre esses números. Esse
colégio vivia movimentado o dia todo. Tínhamos alunos de toda a Região
Metropolitana e a procura por nossas vagas era muito grande. Estamos tentando
melhorar, mas não podemos mudar essa situação sozinhos”, lamenta Adjane, que
trabalha há 30 no colégio. Com somente turmas secundaristas, a procura pelas
vagas foi reduzida e hoje a maior parte dos estudantes do Pedro Augusto moram
no centro da cidade. Além de jovens da Boa Vista, frequentam a instituição
adolescentes das comunidades do Coque e dos Coelhos, e dos bairros de Santo
Amaro e Recife.
Na mesma rua do Pedro Augusto, o colégio estadual Oliveira
Lima é outra unidade de ensino que sofreu com o passar do tempo. Depois de
perder boa parte dos alunos, a escola vem trabalhando para melhorar seu ensino
e sua estrutura. Alunos contam que os laboratórios de informática e robótica
estão sendo construídos, e elogiam a direção e a merenda da escola. “Gosto de
estudar aqui. É tranquilo e organizado, não tem briga e os professores são bons
e atenciosos. Ainda contamos com um almoço bom e atividades extra no período da
tarde, como aulas de música e educação física. Para um colégio público a
estrutura é boa, mas o calor nas salas de aula incomoda bastante”, revela o
estudante do 2º ano do Ensino Médio Miguel Lobo, de 15 anos.
A assistente administrativa do Oliveira Lima, Cássia Pereira,
de 60 anos, concorda com Miguel, mas lembra que ainda é preciso melhorar muito
para chegar às mesmas condições de antigamente. “Estou aqui há 39 anos. Entrei
como aluna e assim que me formei comecei a trabalhar na secretaria do colégio.
Estamos tentando melhorar, mas ainda não é como antigamente. Tivemos uma queda
relevante nos últimos anos”. Ela explica que a instituição tinha mais turmas e
chegou até a oferecer o curso técnico em magistério no período da noite durante
alguns anos. Hoje, são ofertadas apenas dez classes do Ensino Médio, que atendem
396 alunos em regime semi-integral.
Colégio Nossa Senhora do Carmo fechou em 2011, depois de 92 anos de atividades Foto: Marina Barbosa |
As dificuldades não são exclusividade das instituições
públicas. O colégio particular São José, na Avenida Conde da Boa Vista, também
teve seu número de estudantes reduzido nos últimos anos. O imponente casarão,
que foi casa do Barão do Livramento, hoje se destaca pela cor verde, símbolo da
Faculdade Frassineti do Recife (Fafire). A escola tem uma parceria com a
faculdade, vizinha que ocupa cada vez mais espaço no terreno da instituição. O
mesmo acontece com os tradicionais colégios Americano Batista e Salesiano. Seus
prédios continuam chamando a atenção de quem passa pelo bairro da Boa Vista,
mas encontrar estudantes com a farda dessas instituições por ali já não é tão
fácil assim.
A situação tornou-se tão difícil em certos casos que algumas
escolas chegaram até a fechar suas portas. O caso mais emblemático é o do
colégio Nossa Senhora do Carmo, que funcionou durante 92 anos na Rua Barão de
São Borja e encerrou suas atividades no fim de 2011. Na época, a direção da
instituição alegou que a medida foi necessária devido à redução no número de
alunos. Em nota divulgada à imprensa, informou-se que muitos pais estavam
pedindo a transferência de seus filhos para outras unidades de ensino. A
desculpa era que o bairro deixou de ser uma região residencial, por isso o
tráfego intenso e a violência dificultavam o acesso ao colégio. Depois de mais
de um ano sem funcionar, o prédio da escola continua desocupado.
0 comentários:
Postar um comentário