terça-feira, 9 de abril de 2013

Padre Cícero da Boa Vista: conhece bem a dura rotina de quem vive nas ruas.

Por Júlio Rebelo e Wanderley Andrade



Padre Cícero Ferreira de Paula/ Foto: Júlio Rebelo
“Na Boa Vista, me senti mais próximo de Cristo, junto aos pobres e à sua dura realidade. Bem diferente das exigências elitistas de Boa Viagem”.

Com esta frase bastante contundente sobre as diferentes rotinas eclesiásticas, o padre Cícero da Boa Vista deixou bem claro qual a sua preferência de atuação.Nascido em uma família humilde, no município de Gravatá, Cícero Ferreira de Paula, 41 anos, foi o único dentre oito irmãos que optou por fazer da fé a sua missão.

Após concluir o curso de seminarista em Olinda, padre Cícero seguiu para Roma, no ano de 1997. Lá, ele estudou mais cinco anos, entre Teologia e a especialização em Direito Canônico.

De volta a Pernambuco, em 2003, foi ser pároco na Igreja de Nossa Senhora de Fátima, em Boa Viagem. Não era bem o que esperava quando deixou a Europa para servir aos pobres no Brasil. Na Zona Sul, o padre teve que se adaptar às novas condições: atender as exigências de uma elite fiel às missas. Não deu certo, e com oito meses o padre Cícero mudava de endereço.

Assumiu a Igreja Matriz da Boa Vista, localizada na Rua da imperatriz. Em sua nova casa, encontrou muitas tarefas pela frente. Grupos de caridade para cooperar, participação em projetos sociais, atuação juntos aos mendigos e viciados em drogas, e claro, celebrar missas, em diferentes horários.

Mesmo com tudo isso pra dar conta, o padre, em certos momentos, ainda sente incômodo, gerado pela discrepância social. “Dói na alma ir dormir no conforto de um quarto, e saber que bem próximo de mim, há vários espalhados pelo chão sujo do Centro da cidade.”

Por isso, não é de se espantar ver o padre Cícero sentado na calçada, em frente à Igreja, conversando com as pessoas. “Muitos estão apenas carentes de alguém para desabafar, alguém que os escute. Eu gosto de conhecer as pessoas, e esta é uma maneira que encontrei para fazer isso”, revela o padre.

Apesar de não acreditar na mudança brusca do paradigma social, padre Cícero Ferreira crê que pequenas ações já podem contribuir, em muito, para melhorar a condição de vida das pessoas. Um exemplo seria se a Prefeitura do Recife ordenasse o centro urbano.

Na Igreja, ele já observa mudanças. Junto com o novo Arcebispo da Arquidiocese de Olinda e Recife, Dom Fernando Saburido, veio a descentralização do poder. Isto possibilitou uma maior incursão eclesiástica nas comunidades recifenses, na opinião do padre.

No entanto, ainda é pouca a participação das pessoas na vida religiosa. “Em dez anos, não consegui enxergar grandes diferenças nas atividades cristãs dos fiéis. Para que isto mude, é preciso entender que Deus não é nosso servente”, afirmou o padre Cícero.

2 comentários:

Pois, é Padre, ninguém tem tão pouco, que não possa dar um pouquinho, mas, a realidade é bem diferente.

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