quarta-feira, 17 de abril de 2013

Reduto de minorias vulneráveis na Manoel Borba


ONG GTP+ acolhe profissionais do sexo e pessoas vivendo com HIV 

Por Igor Nóbrega
Foto: Reprodução/Internet



Acolher pessoas em situação de vulnerabilidade social e econômica. É com esse objetivo que o Grupo de Trabalhos em Prevenção (GTP+) atua desde 2000 dando apoio a pessoas vivendo com HIV e a profissionais do sexo (homens, travestis e transexuais).  A organização não governamental nasceu a partir da necessidade de criar uma entidade coordenada por soropositivos, que gerasse na população que passa pelo problema um sentimento de identificação com a instituição. São vários os projetos da ONG, que desenvolve trabalhos de prevenção e luta pelos direitos humanos e cidadania das pessoas soropositivas.

 “O perfil da epidemia mudou, e essa constatação nós vemos nas comunidades. Hoje o HIV circula em sua grande maioria nas comunidades mais vulneráveis, porque os parceiros têm dificuldade de negociar a relação sexual”, conta Wladimir Reis, coordenador da GTP+. Com sede na avenida Maciel Pinheiro, 487, no bairro da Boa Vista, região central do Recife, a instituição se deparou com uma nova demanda nos últimos tempos: os usuários de crack. Longe da rota do turismo sexual da Zona Sul, onde os garotos e garotos de programa precisam ter perfil diferenciado e boa aparência para satisfazer a clientela que frequenta os hoteis, muitos tendem a realizar trabalhos sexuais por 10 ou 20 reais para comprar a droga.

“A gente optou por manter a sede na Boa Vista por o centro da cidade ser um lugar mais acessível em questão de mobilidade e transporte, visto a questão da vulnerabilidade da população com qual a gente trabalha. Além de possibilitar o acesso mais fácil dessa população, aqui também podemos atender à demanda dos moradores de rua e profissionais do sexo que vivem ao redor”, considera Wladimir. 


Wladimir Reis, Coordenador Geral do GTP+/ Foto: Igor Nóbrega

Atualmente, a GTP atende de duas a três pessoas por semana, a maioria homens e usuários de crack. A maioria deles já foi mandada embora de casa pela família e costumam transar por baixos valores para comprar a pedra de crack. A partir da recepção, a ONG tenta encaminhá-los para o Centro de Atendimento Psicosocial (CAPS) mais próximo. Lá, porém, eles nem sempre são acolhidos da melhor forma.  “Qual o papel da ONG que o governo não faz? Se você manda uma travesti para o CAPS, ela não é acolhida por ser travesti. Se você mandar um garoto de programa, uma pessoa vivendo com HIV... ela é discriminada. As pessoas já a vêem como alguém que ta passando vírus pra você. Muitos morrem de depressão, pela rejeição de não serem aceitos em lugar nenhum. O que a gente faz é acolher essas pessoas”. 

RESISTÊNCIA - Apesar da grande quantidade de projetos que mantém e da importância do serviço que presta à sociedade, a GTP+ pede socorro. A ONG, que chegou a ocupar dois prédios (o antigo ficava na mesma rua, no prédio onde funciona o Sindicato dos Bancários de Pernambuco) e contava com apoio de várias agências internacionais, hoje sobrevive através da cozinha solidária que mantém, de doações e de alguns editais do governo.

“Éramos financiados por muitas agências internacionais de cooperação antes de 2010. Depois disso, a cooperação internacional foi embora e a nacional ainda não é sensível a apoiar ONGs que defendem os direitos humanos”, lamenta Wladimir. A organização, que chegou a ter 26 colaboradores, conta hoje com 16 . Entre eles, um psicólogo, um assistente social e um pedagogo.

Sempre em busca de manter seus projetos e lutar pelos direitos humanos, a GTP+ realiza, no próximo dia 17 de maio, um seminário com o tema “Luzes para se refletir: Solidariedade, Diretos Humanos e Cidadania”. Logo depois, há uma vigília de soropositivos pelas ruas do bairro da Boa Vista.

PROGRAMAS E PROJETOS - O GTP+ trabalha com duas linhas: o programa de prevenção ao HIV e o programa de cidadania. Dentre os projetos, está a “Cozinha Solidária”, que atua na segurança alimentar das pessoas vivendo com HIV que participam dos demais projetos realizados pela instituição. A maioria dos cozinheiros e auxiliares vive com o vírus e já tinha experiência com cozinha antes de serem acolhidos, mas foram expulsos de seus empregos. 



Mariana, 30 anos, está na cozinha há cinco meses. Ela contou que antes de participar do projeto, chegou a se prostituir e sofreu muita violência, vários assaltos e até tentativas de morte. A travesti trabalhou em casas de família durante dois anos, mas nunca se sentiu confortável nesses ambientes. “Para mim isso aqui foi uma ótima oportunidade. Eu estou me sentindo bem aqui”, conta Mariana, que soube do projeto através de uma colega.

A cozinha funciona das 10h às 14h e é aberta à população. "A Cozinha Solidária é um lugar onde as pessoas marginalizadas podem se sentir seguras ao vir", diz Wladimir. O Restaurante funciona no esquema self-service sem balança, com preço a R$ 7,99. 

Além desse projeto, há outros como o “Horas Femininas”, onde mulheres portadoras de HIV trocam experiências com outras na mesma situação. “A troca de experiências entre as mulheres e a abordagem certa de mulheres com o problema falando para outras na mesa situação garantem o sucesso do projeto”, considera Wladimir. Também há o grupo de teatro de rua “Turma da Prevenção”, que através de esquetes teatrais, apresenta em comunidades de vulnerabilidade social e econômica temas como a cidadania, direitos humanos e a prevenção contra DSTs. (Veja todos os projetos da GTP+ aqui)

1 comentários:

link válido do vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=SyrctRBxff4

não consegui anexar o vídeo à matéria

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