terça-feira, 9 de abril de 2013

As histórias e os encantos do Mercado da Boa Vista

por Amanda Melo e Daniel Medeiros




Mercado da Boa Vista
Foto: Amanda Melo

É um tanto complicado encontrar o protagonista desta matéria. Escondido em meio a tantas ruas, becos e prédios, o Mercado da Boa Vista passa despercebido para a maioria das pessoas que frequentam o bairro de mesmo nome. Sua fachada causa estranheza a primeira vista, já que a estrutura não se assemelha a de um mercado público. Porém, ao adentrar o local, o visitante logo se depara com o cheiro dos temperos, as cores dos produtos tipicamente nordestinos e o burburinho dos que conversam nas mesas de bar. Em ambiente arborizado, bastante convidativo, divido em dois espaços principais, o comércio do mercado dedica-se, principalmente, ao artesanato e à venda de alimentos e bebidas.



Produtos artesanais, alimentos e bebidas são os principais produtos à venda no mercado

Foto: Amanda Melo

Não se sabe a data correta da fundação do mercado, mas os vendedores do lugar  declaram ter conhecimento de um empréstimo concedido, em 1823, à Câmara dos Vereadores do Recife para sua construção. De acordo com o comerciante Célio Sena, 48 anos, antes de se tornar o que é, o lugar já foi uma estrebaria, cemitério e mercado de escravos. “Onde hoje estão as lojas, funcionava a senzala e os escravos eram vendidos no pátio. Após a abolição, resolveram transformar num mercado público para não perder a área", contou.

Há 32 anos trabalhando no mercado, Célio é a história viva  do local. Herdou a loja de seus avós, onde vende produtos regionais. "Quando era criança, passava todos os meus finais de semana aqui. Quando completei 16 anos, passei a tomar conta do estabelecimento", disse e, com muito orgulho, acrescentou: "esse é o único balcão com os mesmos donos e no mesmo ramo desde que se tornou mercado público". Ao defender o pioneirismo do lugar em que cresceu, ele não foge de uma velha rivalidade: "dizem que o Mercado de São José é o mais antigo, que, por estar no centro da cidade, ganha mais visibilidade. Mas este aqui surgiu primeiro". 




Célio herdou a loja de seus avós
Foto: Amanda Melo

Rixas a parte, a verdade é que é impossível negar a importância histórica do lugar. Célio conta que, em 1997, quando ele e seus vizinhos de mercado conseguiram uma liminar para construção de um poço artesiano, a Companhia de Serviços Urbanos do Recife (Csurb) encontrou, durante a obra, artefatos como algemas e ossos humanos. "Historiadores e pesquisadores passaram quase um ano e meio escavando e estudando, mas até hoje não se sabe onde essas peças foram parar", declarou.

No final de 2005, um incêndio provocado por um curto-circuito afetou oito lojas, inclusive a de Célio. A prefeitura do Recife se prontificou em reembolsar os prejuízos e reformar a estrutura da construção. Quando a reforma foi terminada, um ano depois do incidente, Célio observou diversas falhas no que foi feito. "Não houve uma reforma, mas apenas um paliativo. Emendaram fio velho com fio novo, não mexeram na parte hidráulica e, para dizer que o telhado foi renovado, eles o pintaram de marrom-telha", reclamou. Para  Roberto Bento, 53 anos, dono de bar no lugar há dez anos, o mais difícil é lidar com o saneamento. "A água é um problema seríssimo. A estrutura do mercado não estava preparada para o crescimento de bares", contou.




Bar de Roberto Bento, no mercado há dez anos
Foto: Amanda Melo

Segundo a comerciante Marinalva Frank, 74 anos de idade e 25 de mercado, o lugar se tornou bem mais movimentado após a reinauguração promovida pelo então prefeito João Paulo. "Onde tem comida e bebida, não falta gente", brincou a senhora. Roberto confirma essa informação. Ganhador de um concurso de melhores comidas de mercados, promovido pela prefeitura, ele se alegra ao falar sobre o aumento de público. "Isso aqui fica lotado nos finais de semana. Depois do meio-dia, ninguém consegue mais uma mesa", afirmou. De fato, quando termina a semana, os bares ficam cheios de gente de todos os tipos,  com o único propósito de desfrutar das apresentações musicais  e de toda cultura que o ambiente pode lhes oferecer.




Imagens do Mercado da Boa Vista
Foto: Amanda Melo



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