terça-feira, 16 de abril de 2013

Especulação imobiliária começou na Imperatriz

por Paulo Veras



Rua do Aterro - futura Rua da Imperatriz - em 1871 / Foto: Reprodução

A história da especulação imobiliária no bairro da Boa Vista começa na metade do século XVIII, quando uma intervenção do poder público define a criação da Rua do Aterro (hoje, Rua da Imperatriz Teresa Cristina). Ao menos é o que diz a dissertação de mestrado “Para Morar no Centro Histórico: condições de habitabilidade no Sítio Histórico da Boa Vista no Recife”, escrita em 2011 pela urbanista Iana Ludermir Belardino para o Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

A ocupação da Boa Vista havia começado no século anterior como resultado da demanda de moradia próxima ao emergente Porto do Recife. Até 1745, porém, a região da Rua do Aterro permanecia desabitada. O núcleo de ocupação do bairro tinha surgido mais ao sul, nas Ruas Velha e da Glória; no entorno da Igreja da Irmandade dos Homens Pardos de São Gonçalo. Ali, as edificações eram simples e térreas.

Tudo muda com o surgimento da Rua do Aterro. Nos anos seguintes, a ponte que ligava a região do porto ao primeiro povoamento da Boa Vista cai e não é reconstruída pelo poder público. “Tais intervenções propiciaram a valorização do solo e, consequentemente, uma maior verticalização das edificações da Rua do Aterro”, diz Iana no texto.

Em 1759, a Rua do Aterro já estava parcialmente habitada em seu lado par. É nessa época que surge o padrão de ocupação da Boa Vista: comércio no térreo e habitação dos senhores nos andares superiores. “As edificações da Rua do Aterro, sobrado de vários pavimentos, mais largos e ornados, contrapunham-se às casas térreas em lotes estreitos da Rua da Glória e da Rua Velha”, escreve a pesquisadora.

Pudera. Enquanto a aristocracia da nova capital da Província de Pernambuco toma conta da Rua do Aterro e da recém construída Praça Maciel Pinheiro, o antigo núcleo de ocupação começa a ser desprezado. Em 1824, quando o norte da Rua do Aterro já tinha recebido investimentos capazes de levantar o Ginásio Pernambucano e a Assembleia Provincial, a prefeitura comprava parte do Sítio dos Coelhos, na zona ao sul da Rua Velha, para a construção de um matadouro, currais de gado e curtumes.

O valor imobiliário da região despenca, levando a Rua Velha a ser ocupada por um “estrato de renda inferior”, como define Iana. “São notáveis, desde os séculos XVIII e XIX, os primeiros sinais de desvalorização do primeiro núcleo de ocupação da Boa Vista”, explica a urbanista.

Como se sabe hoje, o movimento não ficaria restrito àquela região. No começo do século XX, seria a vez dos moradores da Rua da Imperatriz rumarem para a desejada Rua da Aurora ou para as novas regiões da cidade que começavam a ganhar força. Eram levados pelo sanitarismo de Saturnino de Brito. Os sobrados que ficavam eram, finalmente, habitados por uma população mais modesta ou perdiam sua função habitacional, ficando apenas como base do fervilhante centro comercial em que se convertia todo o bairro. A rua se esvaziava pelo mesmo artifício que a tornara gloriosa.

Leia mais sobre especulação imobiliária nos textos "Viver na Boa Vista é caro" e "Mercado imobiliário não consegue suprir a demanda por moradia no Recife".

0 comentários:

Postar um comentário