As escolas de dança ditam o passo na Boa Vista / Foto: Divulgação/Robson Gomes
por Robson Gomes
Na agitação do bairro da Boa Vista, dois logradouros em especial possuem um ritmo mais compassado. O motivo? É que as ruas Padre Inglês e do Sossego abrigam espaços reservados para ensinar giros, saltos e o romantismo dos ritmos: são as escolas de dança Roberto Pereira e a sede do Balé Popular do Recife, responsáveis por manter a arte de bailar – das danças de salão até os ritmos populares – neste bairro.
Fundada em 2010, a Escola de Dança Roberto Pereira traz o lado romântico e sensual da chamada “dança-a-dois” e se localiza na Rua Padre Inglês. O professor que dá título a este espaço conheceu a arte da dança de salão em 1999, através da antiga Companhia de Dança de Salão do Recife. Há três anos, ele ministra aulas de bolero, samba de gafieira, forró tradicional, swing americano, merengue, com espaço para danças árabes e balé clássico. Quando questionado sobre a faixa de idade que pode tomar aulas na escola, Roberto recomenda: “A partir de 16 anos até a faixa dos 70, desde que tenha boa saúde física e mental, já que as aulas não têm contra-indicação médica e as nossas aulas são de baixo impacto”. A escola atualmente recebe em média 150 alunos e possui unidades nos bairros do Caxangá e no Espinheiro, esta última aberta recentemente. As aulas duram 90 minutos na parte noturna e se dividem por níveis: iniciante, médio e avançado. Sobre o ritmo que as pessoas mais procuram na escola, Roberto diz que houve uma mudança ao longo do tempo: “No começo, o forró foi mais procurado, hoje em dia eles procuram mais por bolero, salsa e até o zouk”. Com preços acessíveis, Roberto Pereira garante que atende a todo o tipo de público: “De gari a gerente de banco, de militares a donas de casa, todos podem entrar na nossa escola”.
"A Boa Vista tem um espírito, uma energia muito forte", diz o professor Roberto Pereira /
Foto: Divulgação
Foto: Divulgação
Dentre os alunos da Escola de Dança Roberto Pereira encontramos Fábio Magalhães, formado em Cinema pela Maurício de Nassau. Apesar de já possuir certo conhecimento de dança antes de entrar na escola, não deixa de frequentar todas as sextas feiras as aulas na Boa Vista. A paixão pela dança é tanta que ele até gravou um documentário sobre os bailes de dança de salão no Recife: “A dança de salão não pode ser exclusiva, ela tem que agregar pessoas”, declara ele em um dos trechos desse trabalho. As aulas nessa escola duram 90 dias, mas os alunos – assim como o Fábio – continuam a frequentar após o ciclo de aulas. E quando perguntado sobre o porquê de a escola estar no bairro da Boa Vista, Roberto justifica: “A Boa Vista tem uma grande importância na minha vida porque foi lá que eu comecei a trabalhar profissionalmente. A Boa Vista tem um espírito, uma energia muito forte. E creio que a nossa escola veio, apenas, agregar mais uma energia a este bairro”, finaliza.
Do romantismo dos ritmos calientes na Rua Padre Inglês seguimos agora para os ritmos tradicionais da Rua do Sossego, onde está a sede do Balé Popular do Recife. A história desta companhia de dança tem início em 1976 e teve como precursores o famoso escritor Ariano Suassuna e André Luiz Madureira, e foi este último, que é o diretor artístico do Balé até hoje, que conversou com nossa equipe. Embora esteja na Boa Vista há 26 anos, André esclarece que o Balé Popular já teve como sedes o Teatro de Santa Isabel, Casa da Cultura e logo após no Centro de Convenções. Além de abrigar os ensaios deste famoso grupo de dança, também funciona a Escola Brasílica de Expressão Artística, que introduz os alunos às mais diversas manifestações culturais. Desde o frevo, caboclinho, passando pelo forró, ciranda, ritmos afro, brincantes e armorial. É a partir daí que alguns alunos da escola também acabam entrando no grupo principal.
Ensaio do grupo principal do Balé Popular / Foto: Robson Gomes
Ângela Fischer, diretora administrativa do Balé Popular, fala da dificuldade de manter uma instituição tão importante: “Recebemos pouco auxílio das instituições públicas. Ficamos esperando os tempos de festa para sermos convidados para dançar”, lamenta. Acompanhar um dos ensaios noturnos do grupo principal, com aproximadamente 15 pessoas, é perceptível que eles treinam os mais diversos ritmos populares com muita sincronia, energia e dedicação. Eles estavam sendo coreografados pelo professor Márcio, que também começou como aluno do Balé Popular.
"Gosto de dançar desde pequena", declara Silvinha Lafaiete, aluna do Balé Popular do Recife /
Foto: Robson Gomes
Foto: Robson Gomes
E no meio dos alunos encontramos a mais nova no grupo: a professora de educação física Silvinha Lafaiete, de 34 anos, que pertence a esse corpo de baile há três anos, mas a sua história com o Balé é mais antiga: “Gosto de dançar desde pequena e minha mãe sempre me levava para ver a apresentação da minha prima, que já dançava aqui. Entre os anos de 92 e 93, entrei na Escola de Expressão Artística do Balé Popular”, conta. Apesar do grande renome, ela também coloca a dificuldade de manter-se no Balé devido ao baixo número de apresentações: “Queria muito viver de dança, mas é complicado, os cachês de participação são baixos e há poucos convites”, confessa. Mas mesmo assim, mantém a paixão pelo grupo, trazendo a sua filha para assistir aos ensaios. André e Ângela enquanto administradores querem muito que a sociedade olhem mais para o Balé Popular: “Queremos abrir mais espaço, nos apresentar mais, mas precisamos de incentivo pra isso”, completam. As inscrições para a Escola Brasílica esse ano já encerraram, onde existem valores de 110 reais até uma taxa simbólica de R$30, em caso de bolsistas.
Mesmo com a pouca divulgação de ambas as escolas, percebe-se que a dança tem sim o seu espaço na Boa Vista. Da elegância das danças de salão até a tradição dos ritmos populares, as Ruas Padre Inglês e do Sossego vivem num compasso único, na linguagem do corpo.
SERVIÇO:
Escola de Dança Roberto Pereira
Rua Padre Inglês, 266 - Boa Vista
Fone: 3088-8585 / 9967-6761
Balé Popular do Recife
Rua do Sossego, 52 - Boa Vista
Fone: 3231-3661
Assista ao documentário "É Dia de Baile", do aluno Fábio Magalhães: http://bit.ly/XoOAYj
0 comentários:
Postar um comentário