III- A linguagem nos tempos áureos da Boa Vista por Marcela de Aquino
Já amanhecia o dia, quando se escutava a cantiga dos vendedores de fruta " Chora menina pra comer pitomba". Assim iniciava-se o cotidiano da Boa Vista da década de 20. Esse era o tempo dos famosos pastoris do cordão azul e encarnado como uma das poucas diversões a alegrar a população. As mães alertavam os filhos para levarem as parteiras em caso de temporais, e quizá, para frevarem nos carnavais no Largo de Santa Cruz .
Consideradas palavrões naqueles tempos eram as expressões arretado, esculhambado e sabotagem no sentido de sacanagem,não podendo serem ditas em ambiente familiar e decente. Outro nome não pronunciado era abilolado, e existiam muitos moços desse tipo que só podiam ter sido criado com vó. Mas haviam os de outra espécie, que estavam sempre apressados para se recompor quando a sogra aparecia e, por isso, fechavam os mamãe-vem-ai utilizados nas calças em substituição aos habituais botões. Só que a mocidade gostava mesmo era de flertar nas tardes de domingo, na Rua da Aurora, garotos de um lado da calçada, e meninas do outro. Depois quando finalmente se tirava uma linha com a garota, tinha que contar com a ajuda dos corta-jacas que elogiavam o moço à família, para que pudesse encostar e, finalmente, se casar para nunca mais se separarem.
Também não se pode esquecer dos indivíduos cabulosos que eram apelidados de chatos de galocha, felizmente para eles, a expressão entrou em desuso. Um tipo popularíssimo das ruas do Recife da segunda metade do século XX era o Bodião de Escama, mas este preferia estar em torno das mesas do Café Lafayette, no Bairro de São José (Ufa!) chateando a todos com as suas extravagâncias. Mas, tirando esse tipo esquisito, até que as coisas não mudaram tanto. Sempre tem aquele amigo que dá um ziguinau no seu livro e fica com a cara lambida de não saber o que está acontecendo, o tal do bôco-moco parente do abilolado, meninas emperiquitas e de catita fazendo farol (querendo impressionar) pra cima de você.
A sociedade também tinha suas diferenças sociais, haviam aqueles indivíduos que queriam imitar os ingleses nos seus trajes e faziam fita, botava banca pra inglês ver. Tinham outros que usavam uns brins, que quando não molhado previamente, as calças acabavam-se encurtando até os tornozelos e os paletós deixando à mostra suas traseiras e passavam a ser chamados de roupas surus. Daí, surgiu a piada Vai pescar siri, é?
Nos colégios, há uma disputa sadia entre os alunos em que fulano deu quinau em sicrano no sentido de corrigir por palavras, e não uma rasteira como se pudera imaginar. No futebol, se dava um pitu em outro jogador, ou seja, drible ou finta. E coitado do fígado, sempre era responsável pelo mal-humor das pessoas "Meu fígado hoje não está nada bom" para dizer que se estava chateado. Eram inúmeras expressões como Fica bobo que jacaré te abraça, Quer matar papai, oião? Que é que há com seu peru? que hoje em dia ficam quase indecifráveis.
Também não se pode esquecer dos indivíduos cabulosos que eram apelidados de chatos de galocha, felizmente para eles, a expressão entrou em desuso. Um tipo popularíssimo das ruas do Recife da segunda metade do século XX era o Bodião de Escama, mas este preferia estar em torno das mesas do Café Lafayette, no Bairro de São José (Ufa!) chateando a todos com as suas extravagâncias. Mas, tirando esse tipo esquisito, até que as coisas não mudaram tanto. Sempre tem aquele amigo que dá um ziguinau no seu livro e fica com a cara lambida de não saber o que está acontecendo, o tal do bôco-moco parente do abilolado, meninas emperiquitas e de catita fazendo farol (querendo impressionar) pra cima de você.
A sociedade também tinha suas diferenças sociais, haviam aqueles indivíduos que queriam imitar os ingleses nos seus trajes e faziam fita, botava banca pra inglês ver. Tinham outros que usavam uns brins, que quando não molhado previamente, as calças acabavam-se encurtando até os tornozelos e os paletós deixando à mostra suas traseiras e passavam a ser chamados de roupas surus. Daí, surgiu a piada Vai pescar siri, é?
Nos colégios, há uma disputa sadia entre os alunos em que fulano deu quinau em sicrano no sentido de corrigir por palavras, e não uma rasteira como se pudera imaginar. No futebol, se dava um pitu em outro jogador, ou seja, drible ou finta. E coitado do fígado, sempre era responsável pelo mal-humor das pessoas "Meu fígado hoje não está nada bom" para dizer que se estava chateado. Eram inúmeras expressões como Fica bobo que jacaré te abraça, Quer matar papai, oião? Que é que há com seu peru? que hoje em dia ficam quase indecifráveis.
E para finalizar em homenagem aos jornalistas de plantão: quando se dizia em segredo uma informação a um colega pedia-se que se ficasse na moita. Mas é claro que quem ficava (detrás) na moita não era o sujeito da oração, mas a informação. Bom, é melhor encerrar o caso, porque deu bode (sujou, sujou..), não quero que o editor censure minha matéria. Sem mais ambiguidades, a expressão simplesmente quer dizer em off.
Referência de linguagens: Livro A velha Rua Nova de Rostand Paraíso
Reportagem completa : I- Da lama ao caos
II- Das maxambombas aos bondes elétricos
Referência de linguagens: Livro A velha Rua Nova de Rostand Paraíso
Reportagem completa : I- Da lama ao caos
II- Das maxambombas aos bondes elétricos