São Luiz: ontem e hoje

Cinema completou seis décadas de existência em 2012. Foto: Caroline Melo.

O mistério na Avenida Manoel Borba, 709

Moradora de rua da Boa Vista tem sua vida contada pela ótica dos vizinhos. Foto: Diario de Pernambuco.

Padre Cícero da Boa Vista

Conheça a trajetória do pároco da Igreja Matriz. Foto: Júlio Rebelo.

"Tudo lindo"

Rua da Conceição é célebre pelas lojas que vendem móveis antigos. Foto: Amanda Melo.

Redescobrindo a Boa Vista

Marcela de Aquino assina série de reportagens sobre história do bairro.

domingo, 31 de março de 2013

O Apaixonado


Paulo Castelo Branco mora há 20 anos na Boa Vista. Há 20 anos ele nasceu e cresceu conhecendo o bairro e suas histórias. Lugares que apenas moradores e gente que entende da dinâmica do bairro podem e sabem explicar. Para poucos, a Boa Vista parece ser o que chamaríamos de ambiente “atraente”, mas, como uma surpresa agradável, inesperada, Paulo conta apaixonadamente como vive as ruas, os mercados, os pontos de encontro e a boemia da região. De dia, há locais em que músicos e artistas de uma maneira geral se encontram para conversar, beber uma cerveja gelada, discutir o roteiro de um filme ou apenas confraternizar numa roda de samba. À noite, também. Mas a memória é interessante e Paulo lembra que, na infância, “costumava ir à Padaria Santa Cruz, às vezes com minha mãe ou com minha tia, acho que só uma vez com os meus avós, para comer coxinha e tomar uma coca-cola”, diz sorrindo. Quando questionado sobre mudanças dessa época, o jovem que viveu 20 anos de sua vida lá afirma que houve alterações físicas, embora a alma do bairro tenha resistido e permanecido a mesma nesses ambientes mais tradicionais, a exemplo da Padaria Santa Cruz ou do próprio Mercado, lugares frequentados por pessoas que preservam o mesmo estilo de vida. 


Paulo enxerga que o bairro não é convidativo para pessoas de fora, apesar da sua localização central, há desconhecimento e preconceito por parte das pessoas que não costumam vir de outros bairros para utilizar os ambientes públicos da Boa Vista. “Gostam de estigmatizar o bairro, usar o pretexto de ser um lugar frequentado por GLSBT e, com isso, querem colocar a Boa Vista para trás, como se fosse um problema, um aspecto negativo as pessoas que frequentam a região. O bairro é visto como “marginalizado”, cheio de bandidos, perigoso e, até mesmo, pobre, sujo”, desabafa Paulo. Ao contrário de outros bairros, na Boa Vista é possível sentir a vida, andar pelas ruas e fazer parte delas, caminhar junto a pessoas diferentes, saber que aquele lugar pertence a você, valor atribuído por Paulo e que é quase inexistente na cidade nos dias de hoje. Encontros entre gerações, pessoas de idade com histórias de outras épocas para contar. Jovens vivendo a história que um dia irão contar. Para Paulo, a vizinhança faz parte da vida integral dele, amores, amigos, pessoas que têm valor que não são amizades “líquidas”, como diria Bauman, o acompanham na vida diurna e nortuna.



Marcela Pereira
Entrevista e Edição de Imagens
Marina Didier
Redação e Filmagem

segunda-feira, 25 de março de 2013

Cinema São Luiz: Ontem e Hoje

por Houldine Nascimento e Mário Rolim 

São Luiz logo antes de uma sessão de Django Livre / Foto: Caroline Melo

Desde a sua fundação, em 6 de setembro de 1952, o Cinema São Luiz já passou por várias transformações até se tornar o espaço que é hoje, de beleza e qualidade amplamente reconhecidas. Entre 2006 e 2009, o local foi fechado para reforma. Em 2008, havia projeto das Faculdades Integradas Barros Melo (AESO) para transformar o lugar num centro cultural, mas não foi adiante. Sendo assim, o Governo de Pernambuco assumiu a reforma, que terminou em 2009. Em 2011, a sala, que era do Grupo Severiano Ribeiro desde a sua criação, foi comprada pelo Governo do Estado por 2,5 milhões de reais.

Geraldo Pinho assumiu a programação da sala em abril de 2011. “Cinemeiro” assumido – é assim que ele se intitula, em vez de “cinéfilo”, termo mais comum –, não tem vergonha em admitir sua paixão pelo cinema. “Passei mais tempo dentro do cinema do que numa mesa de bar. Quando não estudava, estava aqui”.

Geraldo Pinho no hall do 1º andar do São Luiz / Foto: Caroline Melo


Ele foi pela primeira vez ao São Luiz em 1961, para ver um melodrama mexicano chamado La Violetera (Luis César Amadori, 1958), dois dias após chegar ao Recife. “Tinha 11 anos e nunca tinha visto nada igual. Eu sou de Santos e frequentava um cinema a 50 metros da minha casa, com as cadeiras de madeira. Já me impressionei com a entrada. Vim de paletó. Quando terminou o filme e as luzes se acenderam, tive um choque. Fiquei encantado”, revelou. 

Outro que frequenta o São Luiz há um bom tempo é o cineasta Marcelo Pedroso (diretor do premiado documentário Pacific, de 2009). “O primeiro filme que vi lá foi E.T. – O Extraterrestre (Steven Spielberg, 1982). Eu era pequeno, tinha só seis anos, e não tenho muita lembrança disso, só do que meus pais contam. Na adolescência, ia muito. ‘Gazeava’ aula no colégio para assistir aos filmes, e era muita balbúrdia, uma confusão danada”, comentou.

Sobre seu trabalho na programação da sala, Pinho declarou: “É tudo oportunidade, mercado, os filmes que estão em cartaz. O programador não tem uma fórmula. Como programador, tenho cuidado para fazer a programação para toda a cidade, não só para um grupo de iniciados. É preciso traçar uma linha e manter qualidade. Devagar você vai apertando, formando as pessoas. Você tem que iniciá-las no cinema não com obras mais desafiadoras. Abrir mais cinemas, trazê-las para o cinema. Então, quando elas já estão mais acostumadas e menos esperam, ‘taca’ um Glauber Rocha!”

Mas ele é o primeiro a reconhecer que sofre muitas dificuldades, principalmente quanto à distribuição limitada dos filmes. “Por que um filme pernambucano não pode passar no São Luiz assim que ele entra em cartaz? Eu fico puto (sic) com isso. A população vê o filme aqui quando ele já está frio, depois de dois, três meses. Eu venho cutucando a onça com vara curta desde o ano passado. Por que os filmes pernambucanos são muito mal lançados no Recife? Filmes como Febre do Rato (Cláudio Assis, 2011) deviam ser exibidos, pelo menos, nos cinemas públicos. Se eu pudesse passar os filmes no mesmo período em que eles estão em cartaz nos outros cinemas, seria ótimo. Aqui não é como em São Paulo, onde se tem uma diversidade de lugares exibindo o mesmo filme. Aqui são disputadas as mesmas pessoas, por isso não cresce”, pontuou.

Ele também ressaltou o papel do governo no processo, dizendo: “uma das funções do Estado é pegar a obra e exibir para as pessoas, não só fomentar. Nós temos mais de cinco mil municípios e só 300 têm cinema. Enquanto isso, gastam milhões fazendo filmes que quase ninguém vê. Só vão para festival, para meia dúzia de deslumbrados assistirem. O Brasil é o país dos festivais, são centenas e todos com dinheiro público”.

Além de todos esses problemas, há a resistência da própria população. Um episódio emblemático para exemplificar isso é o que envolveu Geraldo Pinho e um colégio tradicional – cujo nome não foi mencionado – de Casa Forte, que tentou organizar uma visita ao Cine São Luiz recentemente. “Os alunos estavam fazendo um trabalho sobre Lula Cardoso Ayres e havia duas tarefas extra-classe: uma era visitar o Instituto dele, em Piedade, e a outra era vir ao São Luiz para ver um painel dele que fica aqui no saguão de entrada. Eles sairiam da escola num ônibus bastante confortável e viriam acompanhados de Lula Cardoso Filho. Tudo estava acertado, mas, depois de 15 dias, o responsável do colégio me liga constrangido, dizendo que não seria mais possível a vinda. Alguns pais não queriam que os filhos viessem por questão de segurança”.

Para explicar esse medo, Geraldo Pinho aponta a própria desvalorização do centro da cidade como fator principal. Além da precariedade da segurança no entorno do cinema e da dificuldade em encontrar estacionamento, a sala tem enfrentado concorrência pesada dos multiplexes, cada vez mais luxuosos. Tanto é que, neste momento, o Recife só conta com outras dois salas de rua: o Cinema do Parque – fechado para reforma há mais de dois anos e sem previsão de abertura – e o Cinema Apolo, em baixas condições técnicas de funcionamento.

Nesta tentativa de revitalizar o São Luiz, Marcelo Pedroso destaca os vários festivais que são sediados nele ao longo do ano, principalmente a Janela Internacional de Cinema do Recife, que ocorre em novembro e consegue até lotar a sala numa sexta ou sábado à noite. “O São Luiz agora voltou com muito fôlego, com uma programação diferenciada e que está atingindo o papel de formação de público. É a sede do ‘Janela’ desde que reabriu, e o festival tem feito um trabalho muito bom de revalorizar o espaço, de atrair novamente o público, fazendo as pessoas retomarem esse gosto de ir para o centro. Então eu penso que [o São Luiz] é um grande símbolo de resistência na configuração da cidade, na forma como a cidade se organiza. Um espaço lindo daquele tamanho, no centro da cidade, cravado ali na beira do rio, tem um significado político, traz uma força”.

Pinho também falou sobre a importância do São Luiz para a cidade. “É um equipamento raríssimo, singular no mundo inteiro. E que tem história, isso é a importância maior, não só para o bairro da Boa Vista, mas para a cidade e para o Brasil. Funciona até hoje atendendo aos objetivos para os quais foi construído, que é de preservar gerações. Trata-se de uma joia que tem que ser mantida em funcionamento e passada para as novas gerações”.


Centro do Recife visto do 1º andar do São Luiz / Foto: Caroline Melo

PÚBLICO - Visitamos o São Luiz numa terça, antes de uma exibição de Django Livre (Quentin Tarantino, 2012), às 15h. Os espectadores chegavam aos poucos, muitos porque não conseguiram ver o filme nos shoppings, onde o longa já saiu de cartaz, um ou outro pelo prazer de revê-lo no São Luiz. O estudante Rivaldo de Castro, por exemplo, ressaltou que gosta da estrutura do cinema, mas prefere os multiplexes por serem mais confortáveis.

Doutorando em Educação da UFPE, Fábio Paiva disse que gosta muito do ambiente do cinema, mas costumava frequentá-lo mais quando morava ali perto, na Rua da Aurora. Sobre as diferenças na projeção, ele destacou a enorme tela do São Luiz e o som, que, segundo ele, não é ensurdecedor como em outras salas. Ao ser questionado, ele não soube dizer a diferença de assistir ao filme no São Luiz, apesar de reconhecer que seria uma experiência diferente, mas revelou que lhe agrada a exibição de filmes não tão dentro do circuito. Ao início da sessão, a sala não parecia ter mais de 30 pessoas, assim como quando vimos Argo (Ben Affleck, 2012), algumas semanas antes.

O público pode parecer escasso, mas isso não abala a confiança de Geraldo Pinho. “Em 2012 o público dobrou em comparação com o ano anterior. Este ano, o mês de janeiro já superou os meses de janeiro e fevereiro do ano passado. Para você mudar tudo isso, leva tempo, tem que formar uma equipe para conseguir”, disse.

Em breve o São Luiz exibirá filmes em 3D. Isto porque, em dezembro de 2012, uma empresa foi contratada por meio de licitação para instalar novos equipamentos. Com isso, o local ganhará novo sistema de som e um projetor 4K digital – com suporte para filmes em 3D –, desta vez permanentemente. Nas últimas edições da Janela, era preciso importar um este tipo de projetor, o que demanda grandes custos. Os novos equipamentos devem chegar em junho deste ano.

Pinho não se preocupa nem com o download de filmes pela internet nem com a venda dos mesmos nas ruas, muitas vezes praticamente na porta do cinema. Ele não chega a ser contra a prática, mas destacou: “cinema é essa coisa coletiva. Tem hora que todo mundo ri junto, chora junto. Vir ao cinema é uma experiência completamente diferente, não tem jeito”, concluiu.

Relatorio - Diversidade religiosa na Boa Vista

Boa tarde! No dia 19, Julio e eu (Wanderley) estavamos apurando, juntando informações para uma matéria que iremos fazer sobre a Igreja Matriz da Boa Vista. Estamos tentando agendar para amanhã(26) uma entrevista com o padre local, o padre Cicero.

terça-feira, 19 de março de 2013

Por onde andam os pedestres na Boa Vista

por Patrícia Bonfim

Calçadas esburacadas, desniveladas e com poucas possibilidades para portadores de mobilidade reduzida são algumas das dificuldades que enfrentam cerca de 1,5 mi de pessoas que circulam diariamente pelo bairro da Boa Vista, segundo dados da Câmara de Dirigentes Lojistas do Recife.


Historicamente conhecido pelo seu comércio, o bairro possui estrutura mínima de mobilidade para os que trafegam a pé pela região. Segundo dados de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 30% das viagens diárias realizadas em todo o País são feitas a pé. No bairro da Boa Vista, não é diferente. A maioria dos usuários de ônibus desembarca na Avenida Conde da Boa Vista, o principal corredor viário do bairro. De lá, segue o percurso a pé, ziguezagueando por entre as calçadas esburacadas, desviando de raízes de árvores e disputando espaço com ambulantes e carros estacionados em locais irregulares.



Pedestres enfrentam dificuldades na Rua Corredor do Bispo. Foto: Moema França.

Considerado uma das ferramentas de medição das condições das calçadas do Brasil, o portal Mobilize de mobilidade urbana sustentável classifica a qualidade das calçadas recifenses como a quarta pior do país. O site coleta informações através da própria população, que avalia a condição das calçadas de sua cidade enviando opiniões, observações e fotografias.


Na Rua do Hospício, a aposentada Luíla Bezerra da Silva, 80 anos, tem que se esquivar de verdadeiras crateras abertas nas calçadas para conseguir trafegar. Há pouco tempo, passou a precisar da ajuda de uma bengala para se movimentar, o que piorou ainda mais a sua locomoção pelo Centro. "É péssimo, tem muitos buracos por onde passo. Cada calçada deveria ser do proprietário do imóvel para que fossem mais conservadas", opina a aposentada.



Luíla Bezerra trafega diariamente pelo bairro da Boa Vista. Foto: Moema França.

Porém, o que Dona Luíla não sabe é que, por lei municipal, donos de casas e prédios já são os responsáveis por manter os passeios públicos conservados e cuidar das áreas destinadas aos pedestres e, assim, garantir a mobilidade urbana a todos os cidadãos.


Entretanto, o atual secretário de Mobilidade e Controle Urbano do Recife, João Braga, não está convencido de que a norma seja respeitada e avalia aumentar o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) dos imóveis cujas calçadas venham a ser de responsabilidade da prefeitura para recuperação.


Enquanto a lei não muda, pedestres da Boa Vista, como Luíla Bezerra, precisam ter atenção redobrada pelas calçadas por onde passam.

O mistério na Avenida Manoel Borba, 709

Fátima, moradora de rua da Boa Vista, tem sua história contada pela ótica dos vizinhos

por Suzana Mateus


Fátima na fachada da casa 709/Foto: Suzana Mateus

A dona da barraca florida arruma as coisas pra ir embora. Um homem de boné amarelo varre a rua. Dois colegas de trabalho batem um papo enquanto fumam na hora do intervalo. O vigia de uma editora lê o jornal. Um casal de amigos conversa, um deles com um bebê nos braços. Todos esses personagens compõem a imagem de um fim de tarde na Avenida Manoel Borba, no Bairro da Boa Vista. Todos foram entrevistados na busca por reconstituir uma história da qual eles não fizeram parte.

É a história de D. Fátima. Magra, estatura baixa, rosto miúdo. Roupas estampadas, lenço vermelho na cabeça, batom também vermelho nos lábios. Lá está ela, sentada na frente de uma casa amarela não habitada, desgastada pelo tempo e pela sujeira. Trata-se de uma moradora de rua. Atípica e misteriosa, não quis falar sobre si, mesmo após duas tentativas de aproximação. Alegou que estava “ocupada”, que voltássemos num outro dia. Dia esse no qual ela também não pode nos receber em sua... residência.
 
Fátima (escondida no canto esquerdo) se recusa a ser fotografada/Foto: Suzana Mateus








A mulher costuma ficar sentada ali e se manter imóvel. Parece mais um quadro. Um retrato emoldurado pela abertura improvisada em uma das entradas da casa. Só há espaço para sentar e colocar alguns poucos objetos. É essa abertura que ela considera como sendo seu lar. Foi lá que Fátima construiu várias relações. De acolhimento a espanto, a moradora de rua não passa despercebida pelos olhares. A maioria a conhece e sabe um pouco de sua história. Mitos e verdades se confundem a respeito daquela que é mais que uma simples sem-teto. É um elemento do próprio espaço. Pertence ao cotidiano da Boa Vista.

Mas, há quanto tempo a moradora teria adotado a fachada de nº 709 como seu lar? Os depoimentos divergem. Entre trabalhadores e moradores, há quem diga que faz dez anos, alguns citam três, outros não lembram, mas a maioria entra em consenso quando se trata de falar do dia em que a mulher passou mal e teve de ser hospitalizada. “No ano passado, deram comida envenenada a ela. Ela quase morre. Foi levada pelo Samu e deixou todas as coisinhas na frente da casa. O carro do lixo levou tudo”, conta Rosa Maria de Lima, a dona da barraca florida que já trabalha naquele local há dezoito anos.

Rosa Maria de Lima /Foto Suzana Mateus

Foi na época em que Fátima adoeceu que os três batentes que servem de entrada para as portas da casa foram fechados com cimento e tijolos pelo dono da residência. No entanto, quando a moradora de rua voltou do hospital, vizinhos e amigos da avenida se juntaram para quebrar a barreira e possibilitar que D. Fátima continuasse sua vida naquele lugar que já é seu. Com uma boneca nos braços, de quem cuida o dia inteiro, a mulher de lábios vermelhos costumava gritar por alguns nomes, como se várias pessoas estivessem dentro da casa. Hoje não grita mais. O silêncio é a sua grande companhia.

D. Rosa conhece D. Fátima há um bom tempo, não sabe exatamente quanto, mas já chegou, inclusive, a conversar com a moradora de rua. Costuma ajudá-la dando umas roupas e diz que “as pessoas comentam” que a mulher silenciosa tinha uma condição financeira muito boa. Que tem, inclusive, uma filha médica e que após a morte do marido jogou tudo pro alto e se entregou às ruas. Segundo D. Rosa, D. Fátima se encontra em estado de depressão profunda. Já foi levada para um abrigo, mas fugiu de lá porque não se considera “velha o bastante para viver num lugar como aquele”. Algumas pessoas, apontadas pela dona da barraca como a possível família de Fátima, visitam a moradora e lhe concedem ajuda. Ainda assim a mulher prefere a casa de amarelo encardido e sem vida e a sua vizinhança acolhedora.

Mas não é somente do carinho dos vizinhos que D. Fátima sobrevive. Ela também está disposta a amar. Foi assim que se apaixonou por Alcymar Monteiro quando este tinha um programa na Rádio Recife. Fátima o seguia com uma fotografia do próprio. Passava horas esperando que o artista saísse da rádio. Resultado disso: Alcymar precisou colocar vidro fumê no carro para não ser reconhecido. “Ela andava pra cima e pra baixo com uma foto dele. Dizia estar apaixonada”, destaca Rosa, enfatizando também que a moradora é muito tranquila.

Célio José concorda com Rosa, mas conhece o momento no qual D. Fátima fica agitada e perde as estribeiras. Trabalhando como auxiliar de limpeza do edifício Carlos Gomes, que fica em frente à casa 709, o varredor destaca que a moradora é de fato muito calma. No entanto, às vezes costuma quebrar as garrafas deixadas pelos frequentadores da Metrópole – boate que fica na esquina ao lado da residência – no meio da rua, com muita agressividade. Segundo ele, nem mesmo as torcidas organizadas desrespeitam a moradora de rua. “As organizadas passam aqui assaltando as pessoas, mas com ela não fazem nada”, diz. Célio, bem como Rosa, também lembra bem do dia em que D. Fátima passou mal. Segundo ele, as pessoas que passavam na rua notaram que ela tinha urinado nas próprias roupas e que não estava bem. Foi assim que esses transeuntes comunicaram a situação aos vizinhos, que ligaram para o Samu para que a doente fosse hospitalizada.

Célio José/Foto: Suzana Mateus

A mesma cena marcou muito Joselito Fernandes. Vigia da Editora Desafio, Seu Joselito se recorda que D. Fátima ficou “mole, doente e vomitando” e que a causa dessa condição foi uma “sabotagem que fizeram com ela”. Isso o indigna, sobretudo, por ser a moradora “alguém reservada, que não faz mal aos outros e que já enfrenta dificuldades demais para passar por uma situação como aquela”. Mas esse não foi o fato relacionado à sem-teto que mais marcou o vigia. Como contou, um dia um carro preto parou na Avenida e dele desceu um homem já velho que disse ser D. Fátima uma ex- grande secretária do Grupo Votorantim.

Joselito Fernandes/Foto: Suzana Mateus

Joselito lembra desse dia e diz ter ficado abismado com aquela revelação. Quase não acreditou no que foi dito. Ele - que leva almoço para D. Fátima todos os dias cumprindo ordens da patroa – não conseguia imaginar que aquela senhora, que vive em condições tão precárias, havia um dia tido uma vida completamente diferente. “Não sei como ela veio parar aqui, mas deve ser uma história muito triste”, destaca. A versão apresentada por ele constitui a segunda a respeito do passado de D. Fátima. Diferente de D. Rosa, Joselito não cita a possível filha médica e perda do marido.

Tendo contato todos os dias com a moradora, o vigia destacou várias características da ex-secretária. Disse que ela lê muito bem. Às vezes está “evangélica com uma bíblia debaixo do braço”; às vezes está “dançando no meio da rua e fazendo despacho”, tudo isso com a boneca que possui, por quem nutre grande afeto. Ele enfatiza ainda que D. Fátima lhe causa admiração pela sua vaidade. Todos os dias a moradora de rua escova os dentes, usa o espelho para pentear os cabelos, se maquia, e curte o silêncio das horas sentadinha em seu lar. Para conquistar D. Fátima, basta levar comida, cigarros ou bebida. Já que bebe e fuma bastante, qualquer um desses agrados já a faz agradecer e dizer: "Deus te abençoe’'.  

Se D. Fátima intriga e é acolhida pelas pessoas que trabalham na rua, o mesmo ela consegue fazer com quem mora naquele local. Edilson Gomes é morador do prédio Carlos Gomes há cerca de 15 anos e não lembra muito bem como foi que percebeu que havia uma nova moradora na Avenida. Ele se recorda, no entanto, que Fátima não vivia sozinha no início. Antes, ficava onde agora é um laboratório, junto com uma amiga. Mas essa amiga, diferente de D. Fátima, era muito mal educada. Elas brigavam o tempo todo, até que a colega foi embora. D. Fátima, que é alguém muito reservada, desperta a curiosidade de Edilson que chega a dizer que ela é “muito mais educada do que certos médicos e universitários do prédio” onde ele mora. O homem nos conta isso enquanto carrega nos braços seu primeiro filho, Emanuel, e ao mesmo tempo conversa com Edinete Mendonça, dona de uma lojinha no térreo do edifício.

Edilson Gomes, com seu filho Emanoel, e Edinete Mendonça/Foto: Suzana Mateus

É através de D. Edinete que tivemos acesso à terceira versão da vida de Fátima. Segundo a dona da loja, a sem-teto teria sido noiva por dez anos de um rapaz que lhe trocara por outra moça. Não resistindo à traição, Fátima teria largado tudo e ido ao encontro do abandono nas ruas. D. Edinete conta a história e em seguida pergunta, com ar de desconfiança: “Vocês estão fazendo isso para tirar ela da rua, né? Não faça isso não, ela já está velha, já sofre muito, às vezes é roubada pelos próprios camaradas da rua. Deixe ela ali no canto dela”, diz a senhora, antes de receber uma nova explicação do propósito de estarmos ali. Satisfeita com a resposta, a mulher volta a falar de D. Fátima, se recordando de uma cadeira de sol que deu a ela. Havia comprado a cadeira para si, mas ao ver a moradora de rua sentada no chão resolveu doá-la. No dia seguinte a cadeira já tinha sumido; alguém já havia roubado. Fato que faz a dona da loja rir alto e se dizer “arrependida” pela ação.

Edilson balançava com cuidado o próprio filho quando disse que D. Fátima tinha o costume de juntar todas as suas coisas numa mala e fazer uma espécie de “turismo”. Ela dizia que ia viajar e saía pelas ruas arrastando uma bagagem. Ele diz ainda que outros moradores de rua já tentaram interagir com Fátima, mas que ela é muito reservada e não dá confiança a ninguém. “Às vezes chegam uns moradores de rua aí tentando se misturar com ela. Alguns até mesmo paquerando-a. Eles ficam passando de um lado para outro, você percebe mesmo que é paquera, mas D. Fátima continua parada, sem dar atenção”, destaca.

Maria Oliveira (Foto: Suzana Mateus)

Com uma vida feito essa, seria D. Fátima feliz? Eis aí uma grande questão sem resposta. Maria Oliveira, que trabalha na Avenida como cabeleireira, diz que é possível que a mulher silenciosa de lábios vermelhos seja feliz do jeito que vive. Tudo o que Maria sabe sobre o possível passado da moradora é que ela vivia bem e teria passado por uma grande dificuldade na vida que a fez largar tudo. “O ser humano é como uma casa. Algumas resistem; outras não aguentam diante de certas situações. Mas felicidade... Felicidade não é ter um sorriso estampado no rosto. Felicidade é um estado de espírito”, argumenta a cabeleireira, que em seguida completa: “Talvez D. Fátima seja feliz dessa forma. Talvez seja a maneira que ela encontrou de achar a liberdade da qual precisava para viver bem consigo mesma”.


Fátima/Foto: Suzana Mateus
Leia mais sobre moradores de rua nos textos "O mistério na Estrada dos Remédios, 2231" e "Irmã Belém quer salvar uma alma de cada vez".

segunda-feira, 18 de março de 2013

Relatório do dia 05/03

No dia 05/03, a editoria Diversidade Religiosa foi a campo entrevistar judeus na Boa Vista. Sem êxito em realizar a entrevista ao menos conseguiu ampliar lista de contatos e conversar casualmente com futura fonte.
Contudo, obteve sucesso em realizar fotografias, e até flagrou ação da prefeitura em retirar os ambulantes da Rua Imperatriz. Pra quem interessar a foto é esta na postagem. Tem que dar uma melhorada, com recorte e zoom. Na hora da fazer a foto o clima estava bastante tenso, o que dificultou a perfeita abordagem da situação.

domingo, 17 de março de 2013

A Boa Vista com sotaque africano

por Thiago Moreira

Quem caminha todos os dias pelas calçadas da avenida Conde da Boa Vista, uma das mais movimentadas do centro do Recife, já deve ter percebido uma profusão de comerciantes usando da lábia para conseguir chamar a atenção dos transeuntes para venderem suas mercadorias. Mais ainda, o que chama a atenção dos que circulam pela cidade não é o brilho das bijuterias baratas, mas sim o sotaque diferente, por vezes estranho, destes mascates. Que o Recife, mais precisamente o bairro da Boa Vista, é notório por acolher pessoas de diversas nacionalidades, isso não é novidade. Muitos desses novos habitués vieram do Senegal, mais precisamente da capital Dakar, como é o caso de Elhadj, de 28 anos.

Há pouco mais de dois meses no estado, o senegalês aponta a realidade difícil em seu país de origem como um dos motivos que o trouxeram para cá. Entre um e outro interessado nas pedras e no metal expostos em sua bancada, Elhadj parou para conversar conosco e nos falar um breve histórico de sua vida. O principal entrave, no entanto, foi a língua. Esbarrando no inglês, e com um maior domínio de francês e do dialeto wolof - as duas línguas oficiais do país -, o comerciante informal ainda demonstra estar bastante perdido com a rotina recifense, apesar de destacar ter passado por boas experiências desde que chegou. Quando perguntado sobre as dificuldades que tem passado aqui, responde de forma bastante categórica. "Quando se tem dinheiro, não existe dificuldade", afirma. Atualmente residente na Boa Vista, deixou família e amigos no Senegal, mas ainda não tem ideia de quando pretende voltar para sua terra natal. "Só Deus sabe", complementa.

Mais desenvolto no português, e esbanjando simpatia para com os clientes, Amadou, de 28 anos, já está mais habituado com o modus operandi brasileiro. No Recife há pouco mais de três meses, e também vindo de Dakar, o africano também passou por São Paulo, onde ficou aproximadamente um ano. Abandonou a profissão de auxiliar de serviços gerais na sua terra natal, e veio dedicar-se ao comércio informal. "A Europa não é mais uma opção favorável para os imigrantes", lamenta Amadou, que tomou conhecimento do nosso país durante a última edição da Copa do Mundo de Futebol, realizada na África do Sul, em 2010. "Gostei muito daqui, pois o bairro é acolhedor com os africanos. O calor humano de vocês é uma característica muito boa", complementa.


Alguns dos produtos vendidos pelo senegalês Amadou, de 28 anos. (Foto: Suzana Mateus)
Também morador do bairro da Boa Vista, Amadou divide um quarto em uma casa na Rua Velha com mais dois amigos. Quando não está realizando seu trabalho, e redobrando suas atenções com a fiscalização da prefeitura, que ainda continua fazendo vista grossa para os mascates, o senegalês gosta de namorar e conversar com os amigos - por cerca de duas vezes, enquanto conversava conosco, Amadou cumprimentava em wolof, o dialeto local, os conterrâneos que passavam próximos à sua bancada. Quando fala no que deixou para trás, a saudade bate mais forte. O motivo é sua filha pequena de três anos, além do pai e mais nove irmãos. Tendo estudado até o quinto ano, pretende voltar, mas a data ainda é incerta.

A palavra de ordem para estes comerciantes é o respeito. Por mais que vendam produtos semelhantes, nenhum deles ousa invadir o espaço do outro, nem roubar a clientela. Mas nem por isso os laços se desfazem. Não é incomum encontrar pelo menos uma dezena destes ambulantes em toda a extensão da avenida. Os lojistas daqui, por sua vez, acabam colaborando com o trabalho deles, tornando a sua adaptação por aqui um pouco mais fácil. Tarefas como passar o troco, dar dicas sobre alguma palavra em português, além de indicar os melhores locais para se comer são feitas de bom grado pelos nativos.

Não são poucas as semelhanças entre o Recife e Dakar, atualmente consideradas "cidades-irmãs", graças a um acordo feito entre as representações das duas capitais, realizado em novembro do ano passado. Para o cônsul do Senegal no Recife, Ênio Castellar, o principal objetivo é fortalecer a troca de experiências entre as duas metrópoles. "Recife e Dakar possuem diversas similaridades, tanto na cultura, como na gastronomia, e que compartilham problemas, como a mobilidade urbana", explica Castellar, que ainda afirma que o interesse do Senegal em estreitar laços com nosso país é tão grande, que o português pode vir a tornar-se idioma oficial da nação africana.


Mulungu: condições de trabalho e políticas de acolhimento para os senegaleses são fundamentais (Foto: Ursula Neumann)
Entretanto, as dificuldades que esses imigrantes encontram por aqui não são poucas. "Como muitos deles não possuem documentos daqui, por não terem chegado ao país de forma legal, fica difícil a inserção destes africanos no mercado de trabalho formal, bem como a solicitação de documentos como a carteira do Sistema Único de Saúde (SUS)", explica o advogado Altino Mulungu, responsável pelo Escritório de Apoio à Cidadania Africana em Pernambuco (Eacape) . Descendente de africanos, Mulungu criou a instituição como forma de auxiliar a estadia de estudantes de intercâmbio oriundos do continente africano no Estado. Além de focar na temática da inclusão, a Eacape também combate conflitos relacionados à intolerância racial, colaborando de perto com os Núcleos de Estudos Afro-Brasileiros (Neabs), do país. "É necessário que o Estado ofereça mais condições de trabalho para os cidadãos de origem africana que aqui estão, principalmente os que chegam aqui sem vínculo educacional, como é o caso dos comerciantes informais senegaleses", conclui.

Leia mais sobre os comerciantes senegaleses na matéria de Amanda Melo e Renata Santos.

quinta-feira, 14 de março de 2013

"Eu adoro a Boa Vista!"

por Ursula Neumann

Dona Zilma junto às imagens já reformadas/ Foto: Ursula Neumann
Quem para na Praça Maciel Pinheiro pra descansar da vida agitada na Boa Vista nem imagina que bem ali na frente, num pequeno prédio sem nome, espremido entre uma padaria e uma farmácia de manipulação, vive uma curiosa senhora.

Do lado de fora, podemos ver, no parapeito da janela do segundo andar, alguns vasos. Não, mas não são flores que dona Zilma cultiva, os vasos são parte de seus instrumentos de trabalho. Nascida em Caruaru, Zilma Ferreira Medeiros Zarzar – “Zarzar é árabe” – pinta e restaura imagens de santos há 40 anos. Ela diz que nunca estudou artes e a técnica, que desenvolveu sozinha, foi um dom que Deus lhe deu. 

Dona Zilma trabalhando em uma peça./ Foto: Ursula Neumann

Dona Zilma mudou-se, na década de 1980, pro Recife para trabalhar na extinta Telecomunicações de Pernambuco, a Telpe. Morou em vários bairros antes de se fixar na Boa Vista. “Eu adoro a Boa Vista!”, diz dona Zilma, “aqui tem tudo, né? Se eu quiser ir na farmácia, tem; se eu quiser ir em uma padaria, tem. As pessoas vêm trabalhar aqui e acham que podem morar em Olinda; é uma extravagância”. 

Santos esperam por Dona Zilma para serem reformados./ Foto: Ursula Neumann

Quando perguntada sobre o que mais a incomodava no bairro, a resposta é previsível: o barulho, mas acrescenta com indiferença: “é normal...”. Outra queixa é em relação à grande quantidade de moradores de rua e usuários de drogas que habitam a Praça Maciel Pinheiro. “Muitas vezes, o barulho vem deles, que ficam gritando tarde da noite e quase ninguém dorme. Às vezes, eles vêm e fazem xixi aqui na escada do prédio, não têm educação”. Diz ainda que não vê nenhum policial, embora exista um posto da polícia há menos de 20 metros dali. 



Vista da Praça Maciel Pinheiro do ateliê de Dona Zilma. Foto: Ursula Neumann

Dona Zilma precisou adaptar o atelier por causa da idade avançada, que não lhe permite descer e subir as estreitas escadas com frequência, e dorme vigiada pelos inúmeros santos que aguardam pela restauração no lugar. Seu apartamento real fica a 100 metros dali, na rua do Aragão, número 67. A artista diz que, durante todo esse tempo, a procura por moradia no prédio sempre foi grande: “é sair e entrar! É tão procurado!“, explica.  “Os apartamentos são antigos, mas têm quatro quartos. São bons, são confortáveis, mas são muito antigos, né? Não é na cerâmica...”. A maioria das pessoas que se muda para lá é de fora, “tinha muita gente daquela praia [Gaibu], eles saíram e agora querem voltar, mas agora já tem gente do Rio Grande do Sul", diz. "Antes tinha um índio, esse índio trabalhava em navio, ele sempre trazia peixe, cada peixe... coisa boa, aí ele saiu, eu senti uma falta dele...”.  

terça-feira, 12 de março de 2013

Relatório-História e Estrutura 05/03


Relatório de atividades do grupo da Boa Vista 05/03/2013

Editoria: História e Estrutura do Bairro

Igor Nóbrega de Medeiros
Lixo e Limpeza Urbana- Na última terça-feira (26), entrei em contato com a assessoria de imprensa da Emlurb para obter maiores informações sobre a coleta de lixo do bairro e, especificamente, na avenida Conde da Boa Vista. Além disso, questionei com que freqüência as ruas do bairro são varridas.
Genealogia+Origem dos nomes das ruas – No sábado (2), visitei o Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico de Pernambuco para apurar informações sobre o serviço de mapa genealógico que eles oferecem e aproveitei para pesquisar sobre a origem dos nomes das ruas da Boa Vista.

Marina Barbosa
Hoteis: Em duas terças-feiras (19 e 26) visiteis hotéis e pousadas da Boa Vista, como Central, America e das Fronteiras. O texto já está pronto, só preciso editar as fotos. Não consegui tirar fotos das fachadas, então talvez ainda volte lá para isso. Mesmo assim, já vou postar a matéria.
Documentos: No dia 12 visitei a Agência do Trabalho. Nesta terça (5), fui ao Expresso Cidadão. Hoje não consegui muita coisa, pois não me deixaram entrar, mas consegui personagens e algumas informações. Acho que é o suficiente para a matéria, mas não pude tirar fotos. Hoje também dei uma passada rápida em alguns bancos. Falta bater a matéria.
Segurança: No começo das apurações, fui ao Instituto Arqueológico de Pernambuco. Conversei com um guarda patrimonial, mas ainda vou buscar maiores informações e outros personagens na guarda.

Marcela de Aquino
Hoje não compareci à aula, pois estava tentando coletar fotografias antigas sobre a Boa Vista na Fundaj de Apipucos. Porém para se ter o acesso a essa fotografias lindíssimas esteticamente e cheia de informação, preciso da permissão do grupo de documentação, pois eles só disponibilizam para trabalhos acadêmicos como monografia e dificilmente, para blog. Gostaria de te pedir Adriana um tipo de ofício explicando sobre a importância desse trabalho para a avaliação e conclusão da cadeira, e como um trabalho de pesquisa acadêmico da Universidade Federal de Pernambuco. Isso ajudaria na avaliação deles, já que foi até negado para o site da prefeitura do Recife há alguns anos.
Ontem, terminei minha pesquisa no Iphan tirando fotos de algumas imagens e pegando mais informações sobre o Conde da Boa Vista. Estou preparando uma série de reportagens já que foi bastante rica as apurações sobre a história do bairro: 1-Sua Origens e Formação da sua configuração atual 2-Vida cotidiana e cultura da época 3- Linguagens do povo, músicas, e tentar descobrir algumas lendas e mitos,... Essa semana postarei a primeira e confeccionarei a segunda.
Atos futuros- Vou ver com o grupo de religião uma entrevista acerca do projeto sobre a comunidade judaica no bairro com um professor, judeu e especialista nessa área. Além de rever importantes personagens para a época como Mario Sette e as famílias tradicionais como continuação da genealogia! E o vídeo que nosso grupo vai preparar fazendo um paralelo da História do Instituto Arqueológico com a formação da Boa Vista, creio que na década de 50, com um personagem que cuida do museu e há anos trabalha lá!

Relatória da editoria de Estrutura

Nesta terça-feira (12), fomos à Praça Maciel para conferir a segurança e a manutenção do local. Conversamos com comerciantes e trabalhadores da região que estavam na praça. Visitamos o posto policial da Rua da Imperatriz e conversamos com o oficial do posto para saber como funciona seu trabalho e quais ocorrências são mais comuns. Também entrevistamos outra policial que trabalha fazendo a ronda do bairro. Visitamos os colégios Oliveira Lima e Pedro Augusto na rua Barão de São Borja. Conversamos com funcionários e alunos das instituições sobre a estrutura, o funcionamento e a história das escolas. Conhecemos a policlínica Gouveia de Barros e conversamos com um funcionário sobre o funcionamento do local. Lá também conhecemos o Centro de Testagem e Aconselhamento em DST / Aids. Por fim, fomos ao centro de pesquisa de emprego e desemprego para conversar com o guarda patrimonial que faz a segurança do local. Igor, Marcela Aquino e Marina Barbosa.

Relatório da Editoria de Mobilidade Urbana



Por André Couto, Moema França e Patrícia Bonfim

Estamos com quatro matérias em andamento: 

- As calçadas da  boa vista, que optamos por fazer uma matéria com mais fotografias na intenção de flagrar situações de estacionamentos e calçadas impróprias. Falta terminar a apuração com professora da UFPE de arquitetura e urbanismo sobre qual seria o tamanho ideal das calçadas, e exemplificar com as fotos. 

- O caso do Hotel Mediterrâneo, ao lado do Shopping Boa Vista. Deficiente visual se machuca com pinos de ferro colocados por dono do hotel no meio da calçada. Temos testemunhas, mas o dono do hotel não quis falar ainda. Estamos apurando ainda e já temos a informação nova de que o dono do hotel tirou os pinos das calçadas.

- Os ambulantes da Boa Vista. Temos dois personagens, com fotos também. Em breve a matéria será postada.


Shopping Boa Vista: o centro de consumo no centro da cidade

por Amanda Melo, Daniel Medeiros, Ellen Reis e Renata Santos

Shopping Boa Vista/Foto: Ellen Reis

Inaugurado em 7 de agosto de 1998, o Shopping Boa Vista foi construído com a proposta de ser um espaço onde os consumidores pudessem comprar com conforto e tranquilidade próximo ao centro. “Sentimos que as pessoas tinham necessidade de um comércio regularizado na Boa Vista. Por isso, construímos um shopping pequeno que, conforme o passar dos anos, precisou se expandir, com áreas de lazer, como cinema e Game Station”, afirma a gerente de marketing do shopping, Tárcia Galvão. Segundo ela, antes da construção do shopping o centro do Recife estava abandonado em termos de comércio. Em 2011, o shopping foi ampliado pela segunda vez, passando a contar com 200 lojas, duas praças de alimentação, seis salas de cinema Multiplex e um edifício garagem com mais de mil vagas de estacionamento. “A terceira etapa foi construída visando, principalmente, ao estacionamento. Logo após a construção do shopping, percebemos que o centro da cidade e a Conde da Boa Vista foram revitalizados: lojas foram construídas no nosso entorno, postos médicos. As classes A e B começaram a frequentar a região. Essas pessoas traziam seus carros e não tinham onde estacionar, dando-nos a ideia de construir a terceira etapa do shopping, com um estacionamento satisfatório para esses novos consumidores", conta Tárcia.

Localizado no bairro da Boa Vista (área central do Recife), o shopping recebe em média 45 mil pessoas por dia, que vêm de todas as partes da região metropolitana com os mais diversos objetivos. De acordo com a professora de sociologia da UFPE Maria Eduarda Rocha, "são várias as modalidades de uso que se pode ter dentro de um shopping. Às vezes entre perfis diferentes de consumidores e às vezes em um mesmo consumidor que estabelece perfis diferenciados naquele lugar". Uma mesma pessoa pode, por exemplo, tanto ir ao shopping apenas para pagar contas ou comprar coisas, como também fazer um lanche com os amigos na saída do cinema.  Gabriela Guimarães, 28 anos, é um exemplo disso. "Venho na maioria das vezes para fazer compras, mas às vezes também venho com meus amigos só para passear. Estou agora mesmo esperando uma pessoa", contou a técnica em segurança do trabalho. Já o contador Luciano Silva, 43, afirma utilizar o shopping apenas como espaço de lazer: "venho quase toda semana para o cinema, mas raramente compro alguma coisa aqui". 

O slogan do Boa Vista já escancara sua marca principal: ser "o shopping da cidade", ou melhor, do centro da cidade. "Buscávamos atrair principalmente os chamados consumidores fixos flutuantes, que são as pessoas que sempre passavam pela Boa Vista, buscando comprar”, diz a gerente de marketing. Essas pessoas são atraídas, principalmente, pela comodidade e o conforto oferecidos pelo lugar, uma vez que as calçadas esburacadas e o calor escaldante do centro tornam a estrutura do estabelecimento bastante convidativa.

Para a vendedora Camila Paloma, 20 anos, esses fatores pesam muito na hora de escolher entre o shopping e o comércio das lojas do bairro. A visível situação de abandono do centro faz com que as pessoas desistam da cidade e prefiram se confinar em lugares onde elas não enfrentarão os mesmos obstáculos.  Maria Eduarda afirma que, embora o shopping possa oferecer todas essas vantagens, ele tira a liberdade vivenciada na rua. "O shopping, por ser um espaço privatizado, está sujeito a certas normas que não seriam negociáveis publicamente. A contrapartida dessa falta de liberdade é a sensação se segurança", explica.

Caminhando pelo shopping não é difícil encontrar grupos que utilizam o espaço como ponto de encontro. "Há grupos de adolescentes que visitam o shopping em determinado horário com determinado uso. Isso é altamente sociável do ponto de vista das relações", afirma a socióloga Maria Eduarda. O estudante de ensino médio Vitor Santiago, 15, confirma essa teoria. Sentado na praça de alimentação com mais três amigos, todos ainda vestidos com a farda da escola, ele conta que nunca vai ao Boa Vista sozinho. "Venho duas ou três vezes por semana, mas sempre com meus amigos".

Há algum tempo, por exemplo, o Boa Vista era conhecido pela forte presença de adolescentes ‘emos’, tribo urbana que tem como principais marcas o gosto por músicas melancólicas e franjas que encobrem boa parte dos rostos. Também é marcante a presença do público gay no local. Segundo Maria Eduarda, o shopping pode ter herdado os consumidores que frequentavam os bares gays do bairro da Boa Vista, muito famosos na década de 70. "É o entorno que define muito do público que utiliza o shopping", afirma. 

Clique AQUI e confira o ensaio fotográfico realizado no local.


Confira, abaixo, os vídeos das entrevistas realizadas com Maria Eduarda Rocha (Pesquisadora e professora da UFPE) e Amanda Paulina dos Santos (Gerente da loja Imaginário no Shopping Boa Vista). O principal objetivo da conversa com a professora foi analisar o Shopping Boa Vista como centro de consumo no centro da cidade, sua relação com a rua e com as pessoas. Com Amanda, o encontro foi voltado para esclarecimentos sobre a influência do Shopping Boa Vista, os reflexos da construção da nova área, assim como das estratégias para conquistar o público do centro.




Entrevista em vídeo realizada com Amanda Paulina:


Relatório de produção - Boa Vista Cultural (12/03/13)

No momento, três textos estão em produção: um sobre o Cinema São Luiz (abordando sua história e importância no Boa Vista), outro sobre as escolas de dança de que se encontram no bairro e um terceiro investigando se há identidade musical na área.


  • A primeira matéria ainda não foi postada por estarmos esperando que uma das fontes dê respostas. Os autores foram fotografar o cinema. Está quase concluída.



  • A segunda também está sendo apurada nesta terça-feira (12/03). A pauta é a seguinte:



Assunto: As Escolas de Dança da Boa Vista

Entrevistados: Roberto Pereira (diretor da Escola de Dança Roberto Pereira), aluno(a) da Escola de Dança Roberto Pereira, Ângela Kicher (diretora do Balé Popular do Recife), aluno(a) do Balé Popular do Recife.

Data: 12/03/2013 e 15/03/2013

Locais: Escola de Dança Roberto Pereira e sede do Balé Popular do Recife.

Horários: 18h e 14h30.

Informações a apurar: Buscar o histórico, a fundação de cada escola. Há quanto tempo funciona? Em que horários e dias? É pago ou não? Qual o público-alvo? Qual o público que frequenta? Quais tipos de dança são ensinadas? Qual a relação/importância da Escola de Dança com o Bairro da Boa Vista? Buscar um aluno de cada escola para contar seu depoimento sobre a sua vivência nessa escola.


  • A terceira está em desenvolvimento. O objetivo é procurar entender como as manifestações de música acontecem na Boa Vista. Foram entrevistados representantes de lojas famosas de CDs do bairro, e será concluída após recolhermos mais informações de moradores locais e da Prefeitura do Recife.

Relatório - Vida Diurna x Vida Noturna

Adriana, eu (Stamberg), vim terminar meu texto "Comum de dois", e pensar sobre as próximas pautas. Nesta semana irei apurar junto com Marina Didier sobre um jet clube lá na Boa Vista.

domingo, 10 de março de 2013

Encontrando a cidadania na Boa Vista


Todos os dias, centenas de pessoas vão ao bairro para tirar documentos no Expresso Cidadão e na Agência do Trabalho

Por Marina Barbosa

No Expresso Cidadão, são emitidas 140 carteiras de trabalho e 160 identidades diariamente / Foto: Divulgação

O bairro da Boa Vista concentra órgãos responsáveis por grande parte da emissão de documentos do Recife. Todos os dias, centenas de pessoas se dirigem ao centro da cidade para resolver problemas legais e tirar títulos como identidade, CPF e carteira de trabalho. Essa papelada é feita no Expresso Cidadão da Rua da Saudade e na Agência do Trabalho, na Rua da Aurora.

Não importa o horário, esses locais estão sempre cheios. São jovens e adultos que emitem documentos em busca de um pouco mais de cidadania. Jovens como os filhos de Cícera de Souza – Aline, 10 anos, e William, 17. “Vim fazer minha identidade, vai ser meu primeiro documento”, conta animada a menina.  

Já William espera para fazer a carteira de trabalho. “Tirei a identidade e o CPF aqui. Agora vou fazer minha carteira de trabalho. Espero encontrar um emprego logo”, diz o jovem. Dona Cícera fala que também tirou sua documentação no centro, por isso leva os filhos para lá. “Esse é o Expresso Cidadão mais próximo da nossa casa. Somos bem atendidos e os documentos saem logo, apesar da fila grande”, revela. A família já se encontrava ali há quase 2 horas esperando atendimento.

A demora, aliás, é uma reclamação de boa parte dos que vão ao Expresso Cidadão. “Preciso tirar a segunda via da minha identidade. Trabalho aqui perto e vim no intervalo achando que daria tempo, mas meu horário de almoço já acabou e ainda não fui atendido. Confesso que fiquei um pouco confuso quando cheguei e vi tantas filas”, diz o funcionário público José Carlos Batista, de 60 anos.  As filas são normais no local, pois as pessoas só podem entrar no Expresso aos poucos, de acordo com o número de suas fichas. Por isso, muitas têm que esperar do lado de fora, sentadas num banco de pedra, no calor. O



Expresso Cidadão funciona pela manhã e à tarde, e recebe quase mil pessoas por dia. Normalmente, o centro emite 140 carteiras de trabalho e 160 identidades diariamente, sendo 70 e 80 em cada turno, respectivamente. As fichas para emissão desses documentos são distribuídas às 7h e às 13h30, mas o atendimento só começa meia hora depois. “Chegamos às 10h para pegar a ficha da tarde, porque sei que aqui está sempre lotado”, revela Dona Cícera.

Já na Agência do Trabalho as coisas parecem ser mais tranquilas. Lá também são emitidas carteiras de trabalho e de identidade, mas as pessoas podem esperar o atendimento em salas climatizadas e cadeiras acolchoadas. Além disso, são oferecidos cursos profissionalizantes, vagas de trabalho e seguro desemprego. Estima-se que aproximadamente duas mil pessoas passem pela agência todos os dias.

“Não realizamos uma quantidade exata de consultas. Para ser atendido, só é preciso chegar em nosso horário de funcionamento – das 7h às 18h”, explica Edineuza Miranda, que trabalha há 26 anos num dos guichês da Agência do Trabalho. “Lido com muita gente, todos os dias. Mas a maior parte das pessoas vem aqui em busca de uma chance de emprego”, conta. Os interessados a alguma das vagas de trabalho ofertadas na agência são encaminhados a entrevistas nas empresas contratantes. Para consultar as oportunidades de emprego, basta fazer um cadastro no site http://maisemprego.mte.gov.br/, ou acompanhar os principais jornais da cidade.

Eliane Cristina, 50 anos, é uma dessas pessoas que foi à Agência em busca de um emprego. “Fazia faxina em casas de família, mas agora estou desempregada. Vi uma vaga de trabalho para auxiliar de serviços gerais nos classificados do jornal, por isso vim aqui. Conheço pessoas que conseguiram um emprego aqui. Espero que eu também arrume alguma coisa”, conta a senhora, na sua primeira visita ao centro. Apesar do otimismo, ela reclama um pouco da demora e diz que está esperando há mais de 1 hora.

Além de encaminhar para entrevistas de emprego, a Agência conta com orientação profissional. Ao lado de Eliane, a psicóloga Flávia Callado, de 50 anos, buscava essa ajuda. “Consegui meu primeiro emprego aqui, mas desta vez vim para refazer meu currículo. As psicólogas me ajudaram e agora já posso me candidatar a novas entrevistas de trabalho." Ela explica que atua na área social, mas agora está em busca de novos desafios e pretende trabalhar com Recursos Humanos. 

SERVIÇO:

Expresso Cidadão
Rua da Saudade, s/n, Boa Vista
Telefone: (81) 3183-8050

Agência do Trabalho
R. da Aurora, 425 - Boa Vista
Telefone:(81) 3183-7065