por Amanda Melo, Ellen Reis, Renata Santos
Consumo - Comércio ambulante na Conde da Boa Vista/Foto: Ellen Reis |
De acordo com comerciantes e trabalhadores entrevistados nas suas respectivas lojas, localizadas na via, o comércio informal não representaria uma ameaça. A diversidade dos produtos e o baixo custo enchem os olhos dos consumidores, mas não esvaziam o bolso dos donos de lojas. “Não vejo os ambulantes como uma ameaça às nossas vendas, mesmo porque o cliente quando procura por qualidade, ele vem a nossa loja; não há transferência de um lado para o outro. Até porque as pessoas compram de qualquer forma, seja aqui, seja no ambulante que está ancorado a nossa vitrine”, defendeu Tomáz Ferreira , 24 anos, vendedor. “Quem sabe o que é bom compra algo de qualidade. Não há perda de clientela”, afirmou Shirley dos Santos, vendedora de uma loja de óculos - um dos produtos preferidos dos ambulantes. Apreciadora desse tipo de comércio, a enfermeira Eunice dos Santos, 30, diz que a vantagem é comprar algo mais em conta. Entretanto, a cidade também fica caótica. “A gente não consegue andar, atrapalha um pouco a mobilidade”, conclui.
Apesar da extrema simpatia no trato com o público os comerciantes informais tornam-se hesitantes e arredios quando o assunto é entrevista. A razão para a animosidade com a imprensa é o medo de que, após exposição, eles acabem tendo problemas com o poder público. Esse assunto, diga-se de passagem, é de sigilo absoluto entre a maioria dos vendedores que se colocam numa posição de autodefesa à mera menção da palavra “fiscalização”. Em nome da segurança e da discrição, os ambulantes entrevistados não forneceram seus sobrenomes.
Alto, robusto, com 34 anos de idade, Moisés é ambulante há quinze anos. De início, respondeu com agressividade, e logo de cara deixou claro: “Não quero responder nenhuma pergunta. Vocês vêm aqui, perguntam um monte de coisa e depois ferram (sic) com a gente”. Moisés deixou claro que perguntas relacionadas à Diretoria de Controle Urbano (Dircon) estavam terminantemente proibidas. Foi preciso alguns minutos de conversa para ganhar sua confiança. Segundo ele, a proximidade com outros ambulantes e as lojas formais não prejudicam o negócio. "Aqui é cada um na sua, ninguém atrapalha o trabalho de ninguém”. Ao final, Moisés declarou as principais mudanças esperadas pelos ambulantes da Boa Vista: “só precisamos de mais organização e a regularização do nosso trabalho”. A vendedora de uma loja de óculos, cuja localização se aproxima do tabuleiro de Moisés, Jaldiceia de Souza , discorda completamente do ponto de vista dele. “Apesar da ação dos fiscais, e mesmo que haja uma oficialização do trabalho desses ambulantes, esse comércio informal nunca vai acabar. Já se tentou tirar essas pessoas da rua, mas elas voltam, ou outros aparecem”, acredita.
O desconforto com relação à Diretoria é unânime nas entrevistas realizadas com ambulantes ao longo da reportagem. “Eles tratam a gente como marginal. Chegam dizendo: ‘bora, é hora do recreio’ e saem desarmando tudo. Queria que eles soubessem que estão lidando com trabalhadores e não com bandidos”, declarou Gelma, ambulante há três anos e meio. Questionada sobre as possíveis alternativas para a melhoria do trabalho desses profissionais, Gelma defende: “eles deviam organizar isso aqui, tirar os toldos que realmente atrapalham o deslocamento dos pedestres e colocar todo mundo num local só. Deviam também regularizar os ambulantes, olhar pela gente. Também somos importantes pro comércio”.
Vendedores como Carolina Pereira e Tomáz Ferreira acreditam que essa discussão vai muito além de comércio formal ou informal. “Essas pessoas estão na rua porque a maioria não tem escolaridade, ou seja, isso é questão também da educação. Acredito que essa informalidade é consequência de deficiências em outros sistemas. Até o turismo acaba sendo atingido, a cidade vira um caos”, afirma Carolina. “O governo vê o comércio informal como algo criminal e enxerga apenas a repressão a esse tipo de prática, mas não faz nada para incluir esses ambulantes em algum trabalho, ou capacitação”, finalizou Tomáz.
Procurada pela nossa equipe com o intuito de responder
as questões referentes à relação com os ambulantes,
a Diretoria de Controle Urbano (DIRCON) não se pronunciou sobre o assunto.
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