São Luiz: ontem e hoje

Cinema completou seis décadas de existência em 2012. Foto: Caroline Melo.

O mistério na Avenida Manoel Borba, 709

Moradora de rua da Boa Vista tem sua vida contada pela ótica dos vizinhos. Foto: Diario de Pernambuco.

Padre Cícero da Boa Vista

Conheça a trajetória do pároco da Igreja Matriz. Foto: Júlio Rebelo.

"Tudo lindo"

Rua da Conceição é célebre pelas lojas que vendem móveis antigos. Foto: Amanda Melo.

Redescobrindo a Boa Vista

Marcela de Aquino assina série de reportagens sobre história do bairro.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

O prático

Direto de Camaragibe para a Boa Vista, Rafael gosta de onde mora por conta da vida profissional. Para diversão, no entanto, a Boa Vista é sua última opção.
                      
Por Marcela Pereira

Rafael da Silva, que mora na Boa Vista por conta da praticidade/Foto: Marcela Pereira
                  

Rafael da Silva descobriu sua paixão por acaso. Ele nasceu em Camaragibe, fazia curso técnico de enfermagem e era dono de um bar. A grande mudança na sua vida veio por causa de um amigo, que trabalhava num parque de diversões, mas que sabia bem o que queria: montar um estúdio de tatuagem e piercing.

 Indo sempre visitar o colega no estúdio, Rafael observava os funcionários aplicando os metais no corpo dos clientes e começou a perceber uma forma de arte que se encaixava muito com ele mesmo. Estudante de enfermagem, ele já conhecia muito sobre o aço cirúrgico e a anatomia humana.

Foi a coincidência que deu o 'empurrãozinho' final para que descobrisse sua vocação. Certo dia, Rafael estava sozinho no estúdio e um cliente chegou, querendo uma aplicação de piercing. “Foi aí que tudo começou”, relembra. Meio relutante, Rafael fez o primeiro de muitos procedimentos. “Perdi o medo trabalhando. O exercício quebrou meus limites de medo e de preconceito com a arte corporal”, diz.

Hoje Rafael tem dois piercings, um alargador e sete tatuagens pelo corpo. Quem o vê, no entanto, conta um número bem maior de desenhos. “Tenho o corpo quase fechado de tatuagens, porque todas elas são grandes”, explica. A primeira de todas foi nas costas: o nome do seu primeiro filho, Luiz Felipe, nascido ainda em Camaragibe. Seu segundo filho é Matheus, que nasceu na cidade onde hoje Rafael mora e trabalha.
                                
“Trabalhei um tempo no estúdio em Camaragibe, mas quis logo mudar para um lugar de mais qualidade. Foi então que vim para cá”, conta. O “cá” é o bairro da Boa Vista, onde mora e trabalha há três anos. O edifício Modo, no cruzamento da Conde da Boa Vista com a Rua da Soledade, é onde Rafael vive grande parte do seu dia. O estúdio onde trabalha fica numa galeria no térreo do prédio. “Moro aqui porque facilita muito, é perto de tudo”, diz. A vida noturna de Rafael, no entanto, fica praticamente por conta do bairro do Recife. “No máximo vou ao Shopping Boa Vista tomar um chopp”, conta.
Edifício Modo, prédio de Rafael/Foto: Marcela Pereira

O ex-estudante de enfermagem agora atende cerca de dez pessoas por dia e já faz muito mais do que aplicar piercings. “Escarnificações e restaurações são os serviços mais caros e elaborados que faço. Escarnificar é retirar a derme em formato de desenho e restaurações são o ‘conserto’ da pele quando o cliente decide tirar um piercing ou alargador”, explica. Microimplantes, microdermais, suspensão e modificações humanas em geral completam sua lista de afazeres. “Ao longo desses três anos, criei grande conhecimento. Amo o que faço, porque para trabalhar com isso, tem que amar. Acredito que cheguei ao nível máximo da técnica”, declara. 

Como 'plus' do trabalho, conhece todo tipo de gente todos os dias. “Vêm para cá fazer modificação desde mães e coroas querendo aplicar piercing no mamilo, até gente que acabou de completar 18 anos e não precisa mais da autorização dos pais para esse tipo de coisa”, ri.

Poesia e carnaval nas ruas da Boa Vista

Espaço Pasárgada promoveu oficina de confecção de fantasias e sua própria troça de Carnaval

Por Caroline Melo

Não é só nos livros onde a poesia se materializa. Foi isso que mostrou a Oficina Poema e Fantasias, oferecida pelo Espaço Pasárgada e a Secretaria de Cultura/Fundarpe, de 28 a 31 de janeiro deste ano. Ministrado por Celinha do Cariri, O programa recebeu aproximadamente 25 pessoas que, de graça, confeccionaram fantasias e adereços baseadas na obra Carnaval, de Manuel Bandeira, publicada em 1919.

O objetivo do projeto foi criar fantasias temáticas para serem usadas durante o desfile da Troça Carnavalesca Mista Bacanal do Bandeira, que saiu às ruas pelo seu segundo ano.

Celinha, criadora de moda e figurinista de cinema e teatro, foi convidada para orientar os participantes do projeto e fez uma extensa pesquisa sobre o propósito do bloco. "Eu pesquisei, li os poemas, adquiri referências sobre o assunto, o tema carnavalesco, os pierrôs, as colombinas e todas essas nuances que tem o carnaval pernambucano. Estamos montando, a partir desses poemas, fantasias que têm a ver com eles."


foto: Caroline Melo
Detalhe da sala da Oficina e materiais / foto: Caroline Melo

Fantasia inspirada em colombina / foto: Caroline Melo
Os versos das poesias de Manuel Bandeira tornaram-se, então, concretos no colorido que tomou as ruas no último dia 6, quando o Bacanal do Bandeira desfilou pelo Bairro da Boa Vista. A concentração começou em frente à Casa de Bandeira às 17h da tarde e foi até as 19h30min, quando, embalados por uma orquestra de frevo, os amantes do carnaval e da poesia caminharam em direção à Rua da Aurora, onde fica localizada a estátua do poeta pernambucano.

A troça, idealizada e organizada pelo Espaço Pasárgada, apresenta diferenças quando comparado a outras. Seu percurso foi escolhido de acordo com as ruas que Bandeira cita em seu poema “Evocação ao Recife” (onde também fala da casa do avô, onde esteve quando menino, que hoje é a sede do Espaço Pasárgada). Outra distinção é ter, em sua programação, paradas obrigatórias para recitais de poesia. Nelas, qualquer poeta – reconhecido ou não – tem a oportunidade de mostrar suas composições.

Selma Coelho e o boneco gigante de Bandeira / foto: Kacia Guedes
foto: Kacia Guedes
foto: Kacia Guedes
Miró, poeta da Muribeca que leva sua poesia como alternativa de vida, de quem o documentário premiado "Miró: Preto, pobre, poeta e periférico" conta a história, esteve presente e contribuiu com sua arte:







Uma drag queen na Boa Vista


Melissa Ubber utiliza o bairro para trabalhar, estudar, se divertir e ser abrigada 


por Stamberg Júnior


Melissa Ubber. Crédito: Arquivo Pessoal
Melissa Ubber tinha acabado de sair da boate em um bairro na capital paulista. Estava do lado de várias amigas. Todas estavam vestidas para matar: lindos cabelos grandes, vestidos curtos, saltos altos, maquiagem forte, pesada e alegre.  Depois de uma noite maravilhosa, as amigas saíram do clube e começaram a conversar ali na frente mesmo. Falavam sobre suas vidas, sobre suas transformações, sobre como seria dolorido se despir dos pés a cabeça depois de tanto sacrifício para que ficassem ‘montadas’. Enquanto falavam, uma moto se aproximou. Sob ela, um homem. Ele para perto das moças e começa a cobrar dinheiro a uma delas, Andressa (nome fictício). Ela responde que não tem no momento, mas que vai conseguir ainda naquele dia, que vai pagar ‘as paradas’ que havia comprado. O motoqueiro já está cansado dessa história, ele quer o dinheiro a todo custo. Ela retruca. Ele saca uma faca do bolso e com apenas um golpe rasga o pescoço de Andressa, a menina que se sente do gênero feminino desde criança cujo nome biológico é André. A garota/garoto morre na mesma hora.

Melissa diz isso chocada: “Ninguém fez nada! Todos viram, ninguém fez nada!”, relembra com ar triste. Melissa é na verdade Alexandre. Um jovem de 20 anos que se considera um artista e que passou por essas e outras, cujo mundo onde vive lhe proporcionou. Durante o dia, ele é um rapaz. À noite, uma moça. E assim se sente: um comum de dois. Alexandre Santos trabalha como cabeleireiro e maquiador na Boa Vista fazendo serviços temporários de salão de beleza no local, quando a clientela fixa do rapaz o chama, geralmente de dia. Sua relação com o bairro, no entanto, não termina aí. Quando anoitece, no final de semana,  o jovem se monta e deixa de ser um menino. Quem domina então é Melissa,  drag queen que trabalha na boate Meu Kaso Bar (MKB) como recepcionista e de vez em quando se apresenta dublando alguém. "Já cheguei até a dublar uma música de travesti (como é chamada informalmente o ritmo Tribal, ou House), vestida de Marilyn Monroe", conta. 


Alexandre Santos. Foto: Arquivo  Pessoal
Quando em cima do palco, Melissa esquece do mundo. "Danço, canto, bato cabelo: no palco me sinto livre".  Mas para ser quem é, Melissa sofre: gastos com maquiagens importadas que se quebram, perucas coladas na cabeça de modo que quando se tira sangra, cílios postiços que ficam presos nos olhos e não soltam mais...um sofrimento, que segundo ela vale a pena. "No final das contas fico uma diva. Não penso em ser igual a uma mulher, muitas drags tem inveja delas. Eu não. Eu as admiro" relata o artista que diz se sentir seguro quando está na Boa Vista para ser quem quer que seja: Alexandre ou Melissa.

De fato o bairro é um reduto para a diversidade e liberdade sexual. Mesmo sabendo que tudo não é mil maravilhas, muitos gays, lésbicas, travestis, transexuais, transgêneros e drags utilizam o bairro como refúgio. Eles se reúnem em boates, bares e espaços públicos simplesmente por assimilação, por entenderem que aquele lugar é acolhedor para o gueto. Alexandre reconhece isso e deixa bem claro que a Boa Vista é sua paixão: "Não tenho vergonha de andar neste bairro como Melissa", completa a drag queen que utiliza o bairro não apenas para trabalho, lazer e diversão mas também  para estudar. "Sei que é muito difícil para alguém como eu arranjar emprego. Por isso estou estudando, faço curso técnico de administração em uma escola no bairro da Boa Vista. Quero ser alguém na vida, quero ser feliz" completa Alexandre. 

A felicidade do artista, no entanto, é algo que mesmo mencionando, ele próprio não acredita. Isso porque, para ele (que além de ser drag queen é homossexual), os gays não podem ser felizes. "Os homossexuais podem até ser alegres e divertidos mas nunca serão felizes." diz o artista que parece não se aceitar, nem querer e auto-afirmar. Sobre isso prefere não falar muito, tem medo de expor seu sentimentos.


domingo, 17 de fevereiro de 2013

Espaço Pasárgada: história, lembranças e perspectivas




 “Eu tenho dito aos poetas: Se apropriem dessa casa. Essa casa é de vocês”. Esse foi o conselho que a chefe da unidade cultural, Selma Coelho, deu aos nossos artistas. 

por Kácia Guedes

Tombada em 1983 e restaurada até a sua inauguração em 19 de abril de 1986, A Casa de Manuel Bandeira, hoje Espaço Pasárgada, é destinada à apreciação da literatura e de diversas manifestações artísticas, oferecendo à população várias oficinas e atrações. No momento, está sob a responsabilidade da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe).

O sobrado que pertenceu aos avós de Manuel Bandeira, construído em 1825 e localizado na Rua da União, foi um dos cenários mais importantes da infância do poeta que viveu dos seis aos dez anos no local. A maioria dos objetos do autor está na Casa Ruy Barbosa, no Rio de Janeiro, onde viveu várias décadas de sua vida. No Espaço Pasárgada, encontram-se basicamente livros, documentos e fotografias referentes ao escritor. Nos dias de hoje, o térreo da casa está dividido em repartições públicas, uma delas é a Secretaria de Ariano Suassuna, e o local ainda acolhe a Coordenadoria de Literatura da Fundarpe desde 2009. Por enquanto, o Espaço Pasárgada funciona somente no primeiro andar da casa.

Além do público em geral, o local é muito frequentado por professores de letras, estudantes, principalmente alunos da rede pública. Poetas, turistas, pesquisadores nacionais e internacionais de todos os lugares vêm para conhecer A Casa de Manuel Bandeira.


                                                                                    


Após quatro anos coordenando o espaço, Selma comenta sobre as dificuldades de gerir a unidade cultural e os principais planos para o seu desenvolvimento/Foto: Divulgação

Segundo a chefe da unidade, Selma Coelho, o processo para o tombamento do espaço não foi tão simples. Foi preciso um movimento dos poetas pernambucanos para que o Estado comprasse e restaurasse o local. “Quando a casa ficou abandonada, sem cuidados, um grupo de poetas fez um tipo de 'vigília'. Vinham para cá, se propuseram a fazer recitais... A partir disso, o Estado resolveu comprar, tombar, restaurar e transformar ela em Espaço Pasárgada”. Ela ainda comenta que depois da restauração a casa foi entregue à comunidade como um templo de estudos e de pesquisa em literatura.

Em relação às atrações e oficinas oferecidas na unidade cultural, Selma explica que as atividades são variadas. Há projetos fixos como o “Café em Pasárgada” que convida um escritor para expor seu processo de criação ao público presente e o Cine Pasárgada, um cineclube que dialoga cinema e literatura – esse projeto, especificamente, surgiu de um trabalho maior chamado Iluminuras de Bandeira que visa o diálogo da literatura com outras linguagens. Em abril, o espaço festeja o aniversário do escritor com uma semana repleta de atrações e em outubro, mês do falecimento de Manuel Bandeira, há a “Semana do Encantamento”, evento promovido pela unidade para estimular a produção e a apreciação da literatura. Aqui, alunos apresentam poesias inspiradas nas obras do poeta.

Selma explica que os projetos não surgem de forma metódica ou regular no espaço cultural e que tudo depende da inspiração, da “sacada” de uma boa ideia. “Os projetos vão surgindo, não temos uma reunião para decidir qual o projeto que será realizado naquele momento. As coisas vão sendo construídas, repassadas para a equipe e a equipe vai somando. Depois levamos aos superiores” comenta a chefe do local.


                                                                                           
O que é estático é a fotografia, a vida não”, por Selma Coelho/ Foto: Kácia Guedes

O Espaço Pasárgada possui planos para melhorar e especializar sua biblioteca nas obras de Manuel Bandeira. A intenção é reunir os trabalhos do autor e tudo o que foi escrito ou editado a partir deles, assim como todo o material que foi musicado, disponibilizando aparelhos para ouvi-lo. Uma ideia parecida com o que foi realizado no Museu da Língua Portuguesa, como comentou Selma.

Para relatar mais algumas propostas que o Espaço Pasárgada possui, Selma declarou: “Gostaríamos de levar a poesia para os municípios, para as costureiras, as bordadeiras, as associações... Queríamos recebê-las aqui, ter alojamento, dá um apoio para receber essas mulheres. Abrir esse universo poético no dia dia dessas mulheres, levar a poesia onde ela não está sendo alcançada. Imagina ela [a costureira] construir a partir de poemas. Como vai ter muito mais sentido quando você faz arte a partir de um tema.”

Em relação ao apoio dado pelo governo à unidade cultural, percebemos que o setor não recebe muitos investimentos. Constatamos pouquíssimas pessoas trabalhando no espaço. No instante em que visitamos a unidade, somente quatro estavam presentes no local, contando com um estagiário. “Tocamos aqui sabe Deus como”, comentou Selma.

Ao fim da entrevista, a chefe da unidade comenta um pouco mais sobre a importância do Espaço Pasárgada para a sociedade: “Vejo uma importância não só para o bairro, não só para a cidade, não só para o estado de Pernambuco e não só para o Brasil. Nós sabemos que a nossa cultura é mais valorizada lá fora do que dentro. Então é preciso um entendimento maior da importância que é este poeta para todos os pernambucanos. Precisamos incorporar isso como um orgulho.”

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Comida e Música, Dia e Noite


Por Clarissa Viana, Marcela Pereira, Marina Didier e Stamberg Júnior.
Há 16 anos o 100% Brasil acumula histórias, incêndios e reconstruções
O China Brasil virou o 100% Brasil. Mas muita coisa mudou além do nome.

Vera Cavalcanti, 60 anos, sócia do restaurante-casa-de-festa-danceteria localizado na Rua 7 de Setembro conta que, quando comprou o estabelecimento, o lugar era tomado pelo “caos chinês”. “Era um mix de abandono”, definiu. Vera e seu marido, Carlos Antônio, resolveram arriscar: reformaram o lugar e organizaram tudo. Empreendedores natos, logo fizeram planos de transformar o self-service em algo mais.
Inicialmente, contratavam alguém para cantar e tocar violão durante o horário do almoço. Com o passar dos anos, o violão foi embora e o tecnobrega assumiu o posto do entretenimento. Foi então que, em vez de ter seu nome dividido com outro país, o antigo ‘China Brasil’ finalmente virou 100% brasileiro. Criaram toda uma estrutura para os shows, com isolamento acústico, ventiladores potentes e capacitação do pessoal. De dia, a preocupação com a qualidade dos alimentos fica por conta da própria dona. Ela é auxiliada por duas equipes capacitadas: uma para a noite, outra para o dia, contando inclusive com uma vigilante sanitária. Segundo Vera, uma funcionária da vigilância a auxilia na conservação dos alimentos.

Assim, a empresa camaleão vem tomando espaço no bairro da Boa Vista aos contrastes. De dia, evangélicos, trabalhadores famintos, crianças e idosos. À noite, bregueiros, trabalhadores dançantes, jovens e idosos. 

Vera explica que o brega não é seu tipo de música. A escolha foi feita porque é um gênero que tem espaço no cenário musical, pouco se investe nos novos músicos. Apesar disso, ela o considera um ritmo respeitável. “É a música daqueles que trabalham muito”, disse. Para ela, a valorização do seu esforço se dá no sentido de promover entretenimento aos seus clientes. “É uma alegria ímpar. Vejo senhoras arrumadas para a noite, muito felizes”, contou. O cheiro da maquiagem dá um ar especial ao lugar. “Uma vez, veio um senhor de uns 80 anos pra cá. Ele estava impecável. Era muito gentil na hora de chamar uma moça pra dançar”, relembrou. “Mas, ao mesmo tempo, chegam os jovens, que entram e animam a todos”, concluiu. O local funciona de segunda a domingo, mas é na quinta-feira que a noite ‘pega fogo’. ‘É o dia que mais tem gente aqui à noite. A casa lota’.

 
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Mas nem tudo é festa. No início de 2010, o local sofreu um incêndio durante um show à noite. As suspeitas de que o incidente foi um ato criminoso não foram descartadas na época, contudo não houve conclusões decisivas na investigação. A tragédia não foi da proporção da ocorrida na boate Kiss, em Santa Maria (RS), onde mais de 230 pessoas morreram devido a inalação de um material similar ao que a casa 100% Brasil utilizava na época do acidente. A espuma da casa de brega pegou fogo, produzindo uma fumaça preta, assim como na boate gaúcha. Havia cerca de 100 pessoas no estabelecimento, sendo que pelo menos 15 foram hospitalizadas na época. Após o desastre de Santa Maria, o país iniciou uma onda de fiscalização para evitar que casos semelhantes acontecessem em outras cidades do Brasil. Dessa vez, a casa 100% Brasil foi notificada pelos bombeiros e deverão apresentar as mudanças requeridas dentro do prazo para evitar a interdição. 
 
 Fonte:
 http://ne10.uol.com.br/canal/cotidiano/pernambuco/noticia/2010/01/09/100_porcento-brasil-funciona-mesmo-apos-incendio-210553.php

Ambulantes: entre a fiscalização e o comércio formal


por Amanda Melo, Ellen Reis, Renata Santos

Organização e regularização do trabalho estão entre as solicitações dos comerciantes informais 

Consumo - Comércio ambulante na Conde da Boa Vista/Foto: Ellen Reis
A inauguração do Shopping Boa Vista, em 1998, trouxe para o bairro consumidores e ambulantes, cuja  migração deve-se, em grande parte, à multidão de pessoas que, obrigatoriamente, passaria pela Avenida Conde da Boa Vista, com destino ao Centro Comercial. Ao longo de toda avenida é possível enxergar estes trabalhadores, aglomerados e, ao mesmo tempo, dispersos em seu cantarolar intenso, buscando atrair os passantes. Com suas barracas coloridas e um sorriso tatuado no rosto, eles se incorporam fortemente à paisagem dos recifenses. Os ambulantes da Cde. da Boa Vista aparentam ser incansáveis, alegres e incrivelmente persuasivos. 

De acordo com comerciantes e trabalhadores entrevistados nas suas respectivas lojas, localizadas na via, o comércio informal não representaria uma ameaça. A diversidade dos produtos e o baixo custo enchem os olhos dos consumidores, mas não esvaziam o bolso dos donos de lojas. “Não vejo os ambulantes como uma ameaça às nossas vendas, mesmo porque o cliente quando procura por qualidade, ele vem a nossa loja; não há transferência de um lado para o outro. Até porque as pessoas compram de qualquer forma, seja aqui, seja no ambulante que está ancorado a nossa vitrine”, defendeu Tomáz Ferreira , 24 anos, vendedor. “Quem sabe o que é bom compra algo de qualidade. Não há perda de clientela”, afirmou Shirley dos Santos, vendedora de uma loja de óculos - um dos produtos preferidos dos ambulantes. Apreciadora desse tipo de comércio, a enfermeira Eunice dos Santos, 30, diz que a vantagem é comprar algo mais em conta.  Entretanto, a cidade também fica caótica. “A gente não consegue andar, atrapalha um pouco a mobilidade”, conclui.

Apesar da extrema simpatia no trato com o público os comerciantes informais tornam-se hesitantes e arredios quando o assunto é entrevista. A razão para a animosidade com a imprensa é o medo de que, após exposição, eles acabem tendo problemas com o poder público. Esse assunto, diga-se de passagem, é de sigilo absoluto entre a maioria dos vendedores que se colocam numa posição de autodefesa à mera menção da palavra “fiscalização”. Em nome da segurança e da discrição, os ambulantes entrevistados não forneceram seus sobrenomes.

Alto, robusto, com 34 anos de idade, Moisés é ambulante há quinze anos. De início, respondeu com agressividade, e logo de cara deixou claro: “Não quero responder nenhuma pergunta. Vocês vêm aqui, perguntam um monte de coisa e depois ferram (sic) com a gente”. Moisés deixou claro que perguntas relacionadas à Diretoria de Controle Urbano (Dircon) estavam terminantemente proibidas. Foi preciso alguns minutos de conversa para ganhar sua confiança. Segundo ele, a proximidade com outros ambulantes e as lojas formais não prejudicam o negócio. "Aqui é cada um na sua, ninguém atrapalha o trabalho de ninguém”. Ao final, Moisés declarou as principais mudanças esperadas pelos ambulantes da Boa Vista: “só precisamos de mais organização e a regularização do nosso trabalho”. A vendedora de uma loja de óculos, cuja localização se aproxima do tabuleiro de Moisés, Jaldiceia de Souza , discorda completamente do ponto de vista dele. “Apesar da ação dos fiscais, e mesmo que haja uma oficialização do trabalho desses ambulantes, esse comércio informal nunca vai acabar. Já se tentou tirar essas pessoas da rua, mas elas voltam, ou outros aparecem”, acredita.

O desconforto com relação à Diretoria é unânime nas entrevistas realizadas com ambulantes ao longo da reportagem. “Eles tratam a gente como marginal. Chegam dizendo: ‘bora, é hora do recreio’ e saem desarmando tudo. Queria que eles soubessem que estão lidando com trabalhadores e não com bandidos”, declarou Gelma, ambulante há três anos e meio. Questionada sobre as possíveis alternativas para a melhoria do trabalho desses profissionais, Gelma defende: “eles deviam organizar isso aqui, tirar os toldos que realmente atrapalham o deslocamento dos pedestres e colocar todo mundo num local só. Deviam também regularizar os ambulantes, olhar pela gente. Também somos importantes pro comércio”.

Vendedores como Carolina Pereira e Tomáz Ferreira acreditam que essa discussão vai muito além de comércio formal ou informal. “Essas pessoas estão na rua porque a maioria não tem escolaridade, ou seja, isso é questão também da educação. Acredito que essa informalidade é consequência de deficiências em outros sistemas. Até o turismo acaba sendo atingido, a cidade vira um caos”, afirma Carolina. “O governo vê o comércio informal como algo criminal e enxerga apenas a repressão a esse tipo de prática, mas não faz nada para incluir esses ambulantes em algum trabalho, ou capacitação”, finalizou Tomáz.

Procurada pela nossa equipe com o intuito de responder as questões referentes à relação com os ambulantes, a Diretoria de Controle Urbano (DIRCON) não se pronunciou sobre o assunto.


Relatório (Editoria Cultura)

Na última semana, um trabalho de apuração foi feito pela equipe durante quatro dias seguidos (de 28 a 31/01 - segunda a quinta). Na segunda, nos direcionamos ao Cine-teatro do Parque. Em seguida, fomos ao Espaço Pasárgada e depois ao Teatro Arraial.

Na terça (29), fizemos entrevista com Selma Coelho, diretora do Espaço Pasárgada.

Na quarta-feira (30), fomos ao Teatro do Parque novamente e foi realizada entrevista com o atual programador, Sérgio Dantas.

Por fim, na quinta (31), a equipe foi ao Cinema São Luiz, onde foi feita entrevista com o programador do espaço, Geraldo Pinho. Com ele, conversamos sobre o Cinema do Parque, do qual foi administrador de 1994 a 2002, e sobre o próprio São Luiz.

Também foi realizada entrevista com os professores Fernando Mendonça e Rafael Dias, da UFPE, sobre os cine-teatros da Boa Vista.